Uma das coisas importantes que devemos considerar é que a
arte sempre é um grito. A grande questão, que se alimentava das incertezas
embutidas na confusão do cotidiano, é ouvir o eco que este grito deveria
causar em outras pessoas, juntamente com a constatação de que nem todo mundo
está preparado para enxergar espelhos de coração, quiçá de alma. A competência
da explanação deveria se aliar com a vontade da interpretação. Os vestígios do
equilíbrio entre estes dois lados da balança se esconde nas semânticas um tanto
obtusas da palavra competência (conhecimentos, habilidades, disputa, conflito).
Em outras palavras, para “gritar” é necessário conhecer, criar habilidades,
disputar com o consciente e entrar em conflito com a sua vida e o que te cerca.
Estaríamos preparados para isto? Poder-se-ia embrenhar por um caminho
confortável, que prescinde de uma dedicação e um aprofundamento maior em
questões que não dominamos por completo. A relevância desta superficialidade
pode não ser completa e pode demandar uma verdadeira jornada para o interior da
mente. Isto é, ao expor completamente sentimentos primeiramente mostramos para
nós mesmo quem somos na essência. Nem sempre a constatação é agradável, como
poderia dizer o meu grande ídolo Van Gogh. Nem sempre encontraremos no profundo
íntimo algum conteúdo que valha a pena. Não sou daqueles que acreditam que
existe uma alma pura e isenta dentro de nós. Ao contrário, pode existir toda
espécie de vício ou transtorno que nosso consciente controla pela
racionalidade. A formação do homem explica isto muito melhor do que a formação
da humanidade. Há um ser dentro de nós afugentado e acantonado. Libertá-lo pode
transformar a vida num martírio constante. Além disto, pode expor nossos mais
temerosos presságios acerca da vida e das pessoas. É um caminho sem volta e é o
caminho do artista.
Antes eram os fragmentos das paixões. Agora os anos os tornaram mais contemplativos. Com o tempo, o pensamento adulto se transforma numa mistura de lógica e emoção, e a intensidade dos arroubos é entregue mais pela personalidade do que pelos hormônios.
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
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