O peso dos dias atarracados por um cotidiano intolerante arqueia as minhas costas. Dobro-me à vontade absurda do querer, que me transporta pelos caminhos obscuros dos desejos que se prendem tênues a alguns objetos, pretensiosamente chamados de conquistas. O sol atravessa o firmamento e, com sorte, uma lua cheia também o fará. Eventualmente uma chuva de verão lavará minha angústia. Esfriará meu rosto e os pensamentos que constroem uma ficção de mundo. Onde nada é tão real quanto a mentira do viver, do se relacionar com outros desejos, do compartilhar fatos com outros egoísmos. Sob os indiferentes caminhos solar e lunar um corpo para. Uma mente para. Uma vida mundana para na demência dissonante dos escapamentos, na opacidade cinza e fedorenta das fumaças, na deselegância de mendigos e meninos que correm erráticos pelas calçadas. Tudo para numa espécie de silêncio momentâneo com ares de eterno. Um calar tão imenso que prenuncia a inexistência, a ausência, a morte. Soterrado pela surdez, inconformado com o estático dos objetos e das pessoas, feito estátuas inexpressivas com olhares de peixe e seus perfumes baratos a catingar qualquer ambiente, eu me aquieto. Castigo um vodu de mim, um flagelo de gente apinhado de marcas de passados não tão bem passados. Martirizo minhas aspirações através de uma imundice de anseios, talvez receios, postados lentamente pelos anos que me trouxeram até este beco. Onde não há ninguém, exceto a solidão. Onde não há vozes, nem toques, nem cópulas. Meu corpo está inerte, insensível e desfalecido, numa espécie de prisão do destino. Não há dinheiro que compre fugas, ou determinação que as inspire. Apenas calo para acumular as minhas últimas forças, aquelas extraídas do que sobrou da minha vontade, e grito, Grito, GriTO, GRITO, GRITO, GRITO, GRITO, GRITO, GRITO.
Antes eram os fragmentos das paixões. Agora os anos os tornaram mais contemplativos. Com o tempo, o pensamento adulto se transforma numa mistura de lógica e emoção, e a intensidade dos arroubos é entregue mais pela personalidade do que pelos hormônios.
terça-feira, 15 de outubro de 2013
O Grito
O peso dos dias atarracados por um cotidiano intolerante arqueia as minhas costas. Dobro-me à vontade absurda do querer, que me transporta pelos caminhos obscuros dos desejos que se prendem tênues a alguns objetos, pretensiosamente chamados de conquistas. O sol atravessa o firmamento e, com sorte, uma lua cheia também o fará. Eventualmente uma chuva de verão lavará minha angústia. Esfriará meu rosto e os pensamentos que constroem uma ficção de mundo. Onde nada é tão real quanto a mentira do viver, do se relacionar com outros desejos, do compartilhar fatos com outros egoísmos. Sob os indiferentes caminhos solar e lunar um corpo para. Uma mente para. Uma vida mundana para na demência dissonante dos escapamentos, na opacidade cinza e fedorenta das fumaças, na deselegância de mendigos e meninos que correm erráticos pelas calçadas. Tudo para numa espécie de silêncio momentâneo com ares de eterno. Um calar tão imenso que prenuncia a inexistência, a ausência, a morte. Soterrado pela surdez, inconformado com o estático dos objetos e das pessoas, feito estátuas inexpressivas com olhares de peixe e seus perfumes baratos a catingar qualquer ambiente, eu me aquieto. Castigo um vodu de mim, um flagelo de gente apinhado de marcas de passados não tão bem passados. Martirizo minhas aspirações através de uma imundice de anseios, talvez receios, postados lentamente pelos anos que me trouxeram até este beco. Onde não há ninguém, exceto a solidão. Onde não há vozes, nem toques, nem cópulas. Meu corpo está inerte, insensível e desfalecido, numa espécie de prisão do destino. Não há dinheiro que compre fugas, ou determinação que as inspire. Apenas calo para acumular as minhas últimas forças, aquelas extraídas do que sobrou da minha vontade, e grito, Grito, GriTO, GRITO, GRITO, GRITO, GRITO, GRITO, GRITO.
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