24/06/2014
É Paulo! Esse clima de Copa me faz lembrar que eu estive em
outra torcida recentemente. Na arquibancada eu torcia fanaticamente para que as
“cordas” puxassem um universo mais elegante. Daquele tipo de uma estética
lógica ímpar, onde todas as conclusões são derivadas de um pequeno conjunto de
afirmações e axiomas simples. Infelizmente eu não tenho mais o domínio da
instrumentação necessária para compreender os detalhes, os dribles, as firulas
e as estratégias da evolução matemática que prometia revolucionar o âmago da
Física. E ela me parecia um tanto complexa, a tal ponto do Brian Greene
filosofar em algum dos seus livros se o mundo real não seria complexo de fato.
De qualquer maneira, eu me comprazia com a ideia de que a inconstância na
aceleração da expansão do Universo poderia ser devida às flutuações de bramas
próximas, ao invés de uma sinistra matéria escura mutante, cujas hipóteses de
existência se ancoram em noções extravagantes sobre a realidade das coisas. Whatever!
O Paul, teu xará, já foi laureado. Aquela matemática maluca que inseria
equações nas contorções estranhas e 10-dimensionais da geometria Calabi-Yau, ou
11-dimensional na Teoria M, ou ainda 12-dimensional na Teoria F, parece ter
cansado os mais veteranos e assustado os iniciantes, que temem perder suas
carreiras num espaço pouco compreendido. No fundo, qualquer outra teoria que
procure explicar o Modelo Padrão, atolado de partículas, precisaria de mais
partículas. E o que aparentemente temos de melhor é a supersimetria.
Para aqueles desavisados que insistiram na leitura até aqui,
é importante citar que este artigo que o Paulo deixou na minha linha do tempo
advém de uma discussão que começou nos anos 70, com a mais assimétrica coisa que
se conhecia à época: férmions (partículas) e bósons (forças). Precisava-se de
uma teoria que explicasse as lacunas do Modelo Padrão. Ou seja, por que umas
partículas são mais pesadas que as outras? Por que existe um determinado número
de férmions? A explicação seria a supersimetria? Pois é! Uma simetria deve
conjugar comportamentos destes dois componentes da Natureza, que tudo formam. E
neste contexto foi importante a observação de que o bóson de Higgs pode decair
em outras associações de partículas e forças para que o Modelo Padrão tenha
suas interações teóricas comprovadas experimentalmente. Faltava a partícula.
Também é importante dizer que existem dois grupos no LHC, denominados CMS e
Atlas. Se as observações forem feitas pelos dois grupos independentes, a chance
de erro toca o improvável.
Mas nem tudo são flores. Para que toda a edificação do
Modelo Padrão seja sólida, para que não haja um prostíbulo de partículas se
interagindo (que no final das contas nos levaria imediatamente a um enorme
buraco negro), é importante postular a supersimetria e, consequentemente, achar
as “supercompanheiras”. O Modelo Padrão não explica tudo. Funciona analogamente
quase como a teoria clássica da mecânica newtoniana (funciona, mas há detalhes
a serem investigados). O LHC parece ter energia suficiente para que seja
possível criar as pesadas supercompanheiras e colocar o amálgama na nossa
compreensão da Natureza. Porém, até o momento, elas se escondem.
30/06/2014
Poderá existir algo que transcenda nossa percepção? Não
veríamos o Universo de uma forma subjetiva? Neste contexto, ainda estamos na
classificação que Aristóteles deu ao (digamos) Grupo Jônico: observadores da
Natureza. Obviamente, a quântica mostra (e ninguém consegue contestá-la) que
definitivamente Deus joga dados. Deus, Tao, Lula, seja lá o que nossa
arrogância de criação onipresente cegue o discernimento. O fato é que todos os
eventos não passam de borrões de realidade e nós, organismos biológicos, cujos
sensores energizados permitem apenas observar uma fração de realidade, justamente
aquela necessária para manter nossas vidas animais, moldamos a compreensão para
transcender as necessidades imediatas. Com um instrumental limitadíssimo, é
claro.
Daí, cada encruzilhada que passamos nos leva a outra
encruzilhada. Por exemplo, dentro do que eu me lembre da Teoria M, existe uma
experiência sugerida de criação de universo. Isto é, junta-se um bando de
físicos e engenheiros numa espécie de LHC planetário (ou galaxial, quem sabe?),
acelera-se algumas partículas e bum! Cria-se um universo novinho em folha
através de um big bang. Depois de frações de segundo, a brama se separaria da
nossa e continuaria a criar seu próprio espaço. Poderíamos pensar em ajustar
algumas constantes físicas para gerar mais planetas, ou diminuir a quantidade
ou intensidade dos raios cósmicos para termos mais chances de vida. Ou seja, um
dos físicos poderia ser o deus do trovão, o outro deus dos mares e o
coordenador seria Odin. O que é isto? Hierarquia de deuses? Seremos deuses num
futuro (se não destruirmos nosso planeta antes)?
O curioso é que ao se perscrutar os céus não percebemos nem
um mísero sinal de radiação gerada por vida inteligente. Universo burro! É
claro que quando o SET foi estabelecido pouco se falava das circunstâncias
especiais que fizeram este belo planeta ter chances de vida. As mais
importantes foram o bombardeamento inicial de cometas aquosos e,
principalmente, a trombada com Thea, que criou a Lua (protegendo-nos de objetos
espaciais e estabilizando o clima), esquentou e proveu momento angular para o
núcleo do planeta (o que possivelmente criou o campo magnético que nos protege
dos raios cósmicos e do vento solar) e deformou nossa superfície ao criar as
placas tectônicas e, consequentemente, os continentes. Bem! Poderíamos ser
peixes se assim não acontecesse. Glu, glu... A inteligência do córtex é exceção
também. Custa muita energia. Tanta que nenhum outro animal a tem... Se fosse uma vantagem evolucionária,
estaríamos agora vendo uma copa do mundo com toda espécie de animais. Gorilas
contra macacos-prego. Os beques poderiam ser elefantes, ao invés do loirinho
André Luiz. Eu escalaria para o gol uma baleia azul!
Por fim, a matemática. Diferentemente das religiões e do
lulopetismo, onde existe uma filosofia (se é que podemos chamar assim) com base
dogmática, a ciência tem estruturação axiomática. A matemática, com sua força
lógica, é a sua linguagem. A questão básica é a determinação da possibilidade
da complexidade na descrição dos eventos, ou se a crença dogmática dos
cientistas, de que tudo pode ser reduzido a um núcleo elegante de explicações
lógicas, é verdadeira. A “verdade existe” é um axioma que remonta aos gregos,
se não me engano. Ela existe?