segunda-feira, 30 de junho de 2014

Bate-papo com Paulo Andrade, ou Besteirol Desestruturado


24/06/2014

É Paulo! Esse clima de Copa me faz lembrar que eu estive em outra torcida recentemente. Na arquibancada eu torcia fanaticamente para que as “cordas” puxassem um universo mais elegante. Daquele tipo de uma estética lógica ímpar, onde todas as conclusões são derivadas de um pequeno conjunto de afirmações e axiomas simples. Infelizmente eu não tenho mais o domínio da instrumentação necessária para compreender os detalhes, os dribles, as firulas e as estratégias da evolução matemática que prometia revolucionar o âmago da Física. E ela me parecia um tanto complexa, a tal ponto do Brian Greene filosofar em algum dos seus livros se o mundo real não seria complexo de fato. De qualquer maneira, eu me comprazia com a ideia de que a inconstância na aceleração da expansão do Universo poderia ser devida às flutuações de bramas próximas, ao invés de uma sinistra matéria escura mutante, cujas hipóteses de existência se ancoram em noções extravagantes sobre a realidade das coisas. Whatever! O Paul, teu xará, já foi laureado. Aquela matemática maluca que inseria equações nas contorções estranhas e 10-dimensionais da geometria Calabi-Yau, ou 11-dimensional na Teoria M, ou ainda 12-dimensional na Teoria F, parece ter cansado os mais veteranos e assustado os iniciantes, que temem perder suas carreiras num espaço pouco compreendido. No fundo, qualquer outra teoria que procure explicar o Modelo Padrão, atolado de partículas, precisaria de mais partículas. E o que aparentemente temos de melhor é a supersimetria.

Para aqueles desavisados que insistiram na leitura até aqui, é importante citar que este artigo que o Paulo deixou na minha linha do tempo advém de uma discussão que começou nos anos 70, com a mais assimétrica coisa que se conhecia à época: férmions (partículas) e bósons (forças). Precisava-se de uma teoria que explicasse as lacunas do Modelo Padrão. Ou seja, por que umas partículas são mais pesadas que as outras? Por que existe um determinado número de férmions? A explicação seria a supersimetria? Pois é! Uma simetria deve conjugar comportamentos destes dois componentes da Natureza, que tudo formam. E neste contexto foi importante a observação de que o bóson de Higgs pode decair em outras associações de partículas e forças para que o Modelo Padrão tenha suas interações teóricas comprovadas experimentalmente. Faltava a partícula. Também é importante dizer que existem dois grupos no LHC, denominados CMS e Atlas. Se as observações forem feitas pelos dois grupos independentes, a chance de erro toca o improvável.

Mas nem tudo são flores. Para que toda a edificação do Modelo Padrão seja sólida, para que não haja um prostíbulo de partículas se interagindo (que no final das contas nos levaria imediatamente a um enorme buraco negro), é importante postular a supersimetria e, consequentemente, achar as “supercompanheiras”. O Modelo Padrão não explica tudo. Funciona analogamente quase como a teoria clássica da mecânica newtoniana (funciona, mas há detalhes a serem investigados). O LHC parece ter energia suficiente para que seja possível criar as pesadas supercompanheiras e colocar o amálgama na nossa compreensão da Natureza. Porém, até o momento, elas se escondem.

30/06/2014

Poderá existir algo que transcenda nossa percepção? Não veríamos o Universo de uma forma subjetiva? Neste contexto, ainda estamos na classificação que Aristóteles deu ao (digamos) Grupo Jônico: observadores da Natureza. Obviamente, a quântica mostra (e ninguém consegue contestá-la) que definitivamente Deus joga dados. Deus, Tao, Lula, seja lá o que nossa arrogância de criação onipresente cegue o discernimento. O fato é que todos os eventos não passam de borrões de realidade e nós, organismos biológicos, cujos sensores energizados permitem apenas observar uma fração de realidade, justamente aquela necessária para manter nossas vidas animais, moldamos a compreensão para transcender as necessidades imediatas. Com um instrumental limitadíssimo, é claro.

Daí, cada encruzilhada que passamos nos leva a outra encruzilhada. Por exemplo, dentro do que eu me lembre da Teoria M, existe uma experiência sugerida de criação de universo. Isto é, junta-se um bando de físicos e engenheiros numa espécie de LHC planetário (ou galaxial, quem sabe?), acelera-se algumas partículas e bum! Cria-se um universo novinho em folha através de um big bang. Depois de frações de segundo, a brama se separaria da nossa e continuaria a criar seu próprio espaço. Poderíamos pensar em ajustar algumas constantes físicas para gerar mais planetas, ou diminuir a quantidade ou intensidade dos raios cósmicos para termos mais chances de vida. Ou seja, um dos físicos poderia ser o deus do trovão, o outro deus dos mares e o coordenador seria Odin. O que é isto? Hierarquia de deuses? Seremos deuses num futuro (se não destruirmos nosso planeta antes)?

O curioso é que ao se perscrutar os céus não percebemos nem um mísero sinal de radiação gerada por vida inteligente. Universo burro! É claro que quando o SET foi estabelecido pouco se falava das circunstâncias especiais que fizeram este belo planeta ter chances de vida. As mais importantes foram o bombardeamento inicial de cometas aquosos e, principalmente, a trombada com Thea, que criou a Lua (protegendo-nos de objetos espaciais e estabilizando o clima), esquentou e proveu momento angular para o núcleo do planeta (o que possivelmente criou o campo magnético que nos protege dos raios cósmicos e do vento solar) e deformou nossa superfície ao criar as placas tectônicas e, consequentemente, os continentes. Bem! Poderíamos ser peixes se assim não acontecesse. Glu, glu... A inteligência do córtex é exceção também. Custa muita energia. Tanta que nenhum outro animal a tem...  Se fosse uma vantagem evolucionária, estaríamos agora vendo uma copa do mundo com toda espécie de animais. Gorilas contra macacos-prego. Os beques poderiam ser elefantes, ao invés do loirinho André Luiz. Eu escalaria para o gol uma baleia azul!

Por fim, a matemática. Diferentemente das religiões e do lulopetismo, onde existe uma filosofia (se é que podemos chamar assim) com base dogmática, a ciência tem estruturação axiomática. A matemática, com sua força lógica, é a sua linguagem. A questão básica é a determinação da possibilidade da complexidade na descrição dos eventos, ou se a crença dogmática dos cientistas, de que tudo pode ser reduzido a um núcleo elegante de explicações lógicas, é verdadeira. A “verdade existe” é um axioma que remonta aos gregos, se não me engano. Ela existe?

São Jorge - Saint George

  Imagem gerada pelo Midjourney São Jorge! Mostraste a coragem misericordiosa que me livrou do dragão que sempre carreguei em meu coração. I...