http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Redheart.png?uselang=pt-br
Não! A poesia está no coração.
Tenta-se a métrica ritmada, o formato disposto em versos e a
sonoridade de rimas para tentar induzir algo como música, cujo ritmo poderia
domar os dragões do desejo, obstar qualquer leitor ante os precipícios da
melancolia, ou simplesmente ecoar no íntimo da personalidade. Nesse sentido, a
poesia empresta à literatura elementos da música, como o lirismo, a harmonia, a
dinâmica temporal, a ressonância e (por que não dizer?) o timbre. Mas ela está
no querer. Nunca estará no acaso. A poesia pode estar numa conversa com um
pescador esquecido na longínqua Barrinha (Ceará), ao explicar com firulas
retóricas como ele avança 200 km mar adentro e retorna na mesma praia alguns
dias depois. A poesia pode estar em algumas passagens da maravilhosa Herta
Muller, ao contar o sofrimento das pessoas nos campos de trabalho russos que se
disseminaram pelo país após a II Guerra.