quinta-feira, 10 de julho de 2014

Peter Brian Medawar

http://pt.wikipedia.org/wiki/Peter_Brian_Medawar

Obviamente poucos dos que me leem saberiam dizer quem é Peter Medawar. Acredito que a grande maioria nem acertaria por melhor que fosse o chute. Porém, quase todas as pessoas que vivem no Brasil podem dizer quem foi o capitão da Copa de 1970. Ou conseguem relacionar vários nomes de esportistas e políticos que compõem o que eu poderia chamar de panteão das nulidades de um país estranhamente vinculado às coisas fúteis. O próprio Peter, título deste post, somente tem relação com este país pelo fato de que ele nasceu no Rio de Janeiro, nada mais. Sua carreira se desenvolveu e se consolidou na Inglaterra. De qualquer maneira, é o único nome que aparece na lista de prêmios Nobel como brasileiro. Curiosamente existem apenas quatro argentinos, ao invés dos cinco que eu citei e que estão sepultados no cemitério da Recoleta. É que a lista da Wikipédia aponta o país cuja carreira se desenvolveu ou iniciou, ao passo que a lista da Academia Sueca aponta o país de nascimento (nem é preciso falar que na lista da Wikipédia o Brasil nem aparece). No item Argentina, a lista da Academia Sueca não cita o parisiense Luis Federico Leloir, Nobel de Química em 1970. Como o Nobel brasileiro, este Nobel francês é acidental, pois a família de Federico costumava viajar constantemente para Paris a fim de tratar a doença do seu pai. Acidentalmente, lá ele nasceu.

Mas não importa, o fato é que quando visitamos a Recoleta os argentinos falam com orgulho das tumbas dos seus laureados, e podem citá-los. A gente fica com Pelé, Senna, Guga e uma penca de irrelevantes políticos. Os argentinos falam com (merecido) orgulho sobre Ricardo Darín, enquanto aqui, salvo raras (e antigas) exceções, somente citamos nomes das versões atualizadas e tupiniquins das óperas-bufas, que inundam nossos cinemas e se propagam como comédias. Nem vou me prolongar muito nesta fúnebre e chuvosa quinta-feira, com os brasileiros de luto e baixa autoestima pela vergonha de um sete a um que não tem a mínima importância. Apenas me permitam citar novamente o sempre moderno Nelson Rodrigues ao dizer “o futebol é a coisa mais importante entre as menos importantes”. Não é o que parece pelas ruas e conversas pescadas, infelizmente.

Sempre grande Nelson. Tão grande que esta famosa frase é citada como sendo de autoria de Arrigo Sacchi, ex-técnico da Itália, que a usou sem fazer referência ao autor. Pois é! Primeiro mundo também rouba ideias, e é neste contexto que eu gostaria de falar sobre a Pirâmide de Arseneto-Gálio na próxima postagem. Nada a ver, e tudo a ver. Quanto à frase, é possível que tenha sido mesmo do italiano, o que não desmerece a afirmação de que primeiro mundo também rouba ideias. Mas Internet aceita qualquer besteira. Ao comentar a frase com meu amigo Érico ele se lembrou de outra atribuída a Abraham Lincoln, o que me faz desconfiar de tudo que se lê por aqui (incluindo esta postagem): "The problem with internet quotes is that you can't always depend on their accuracy".

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