terça-feira, 2 de setembro de 2014

O Fim do Romantismo


Ela: cansei! Quero ir embora.

Ele: para onde?

Ela: para qualquer lugar longe de você.

Depois disso, o máximo que consegui foi ligeiramente virar o rosto, abaixar a cabeça e olhar o chão. Queria encontrar um lugar para me esconder, para derramar estas lágrimas que insistem nos olhos. Queria me esconder de tudo. De mim, das pessoas do trabalho, da família. De todos e de tudo num rompante de desejo, devidamente bloqueado pela impotência da vontade.

Alguns minutos se passaram dentro de um instante quando pensei que a cobiça pelo desaparecimento era causada pela humilhação, e encerrada neste curto diálogo à meia-noite. Mas não enterrada no esquecimento, nem naquelas imagens que a mente guarda no limbo da percepção. Algo que não existe até ser despertado. O luar penumbra a minha nuca no exato momento em que levanto a cabeça e vejo o seu vestido ondular no longe. Só um grito a alcançaria, mas balbucio. Ah! Os sussurros de êxtase já a abandonaram há muito tempo. Os carinhos estavam preguiçosos, os beijos protocolares e o sexo era apenas sexo. Como se pudesse dizer apenas sexo algo segmentado em longos intervalos. A cama não tinha mais a lascívia de outrora.

A gênese desta hora está no romantismo, ou na sua ausência. Onde eu o esqueci? Quando ele foi embora para logo a levá-la? Não sei se choro por ela, ou por mim. Não mais a quero, é certo. Talvez queira aquela que conheci. E talvez ela ainda a seja. E eu não sou aquele que a conheceu. Ele morreu em alguma frustração, ou no processo de desfalecimento gradual que passei pela vida e que ocasionou o desmerecimento da felicidade. Porém, eu não falo de pieguice, de infantilizações ou alucinações exageradas da realidade. Falo do romantismo que a olha profundamente nos olhos e, despido de palavras, diz para ela que a desejo como nunca antes a desejei. Em todo dia, todo momento que sinto a sua presença, delatada ou não pelo seu perfume preferido. Falo do romantismo que a abraça diante dos seus infortúnios e diz para ela, sem as palavras, que ali está o refúgio de todos os problemas. Um cantinho no meu peito para ela sonhar. Quando falo com palavras, estas soam como poesia. Como algo que desenha um sorriso no canto da sua boca.

Não sou filósofo para pensar nas razões, nem quero, o fato é que o meu toque não é nada além do tato. O tato do meu beijo não é nada além de um carinho, e o carinho não é nada além de um toque. Eu mesmo não sou nada além de um homem comum, que passa pela vida sem pressa. Que apenas passa.  

São Jorge - Saint George

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