quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Religiosidade


Talvez por um descuido na minha formação, ou talvez pela maneira arrazoada como trato os problemas e, por conseguinte, o desconhecido, eu não sou um frequentador assíduo de templos ou locais eclesiásticos. Exceto pelo valor histórico e humanístico das edificações e objetos, bem como sua importância semiótica (motivos mais do que justos para eu visitá-los) eu sempre pensei que a igreja existe no meu coração. Fora dele existem os eventos onde eu aplico o meu livre arbítrio. Às vezes as situações são factíveis de interpretar, outras vezes nos remetem para conjecturas fantásticas. O que não conheço me incomoda, ou incomodava, mas nunca utilizarei uma explicação através de meios impossíveis de se comprovar. Prefiro um sincero “não sei” às especulações mirabolantes. Todavia, dentro do meu coração é onde eu posso encontrar a paz e o divino para prover significação para os meus dias. Pois eu sou um físico. Não no sentido de ofício, mas de formação. E ser físico não é fruto de oportunidades fortuitas que o destino te presenteou. Ser físico representa uma escolha profundamente sedimentada nas minhas convicções. Porém, neste momento eu gostaria de não tergiversar através de estereótipos elegantes ou maquiavélicos do conceito desta formação. As minhas convicções concernem com a questão da indomesticabilidade do meu pensamento, da forma como eu emprego a heurística para prover substância e certezas relativas ao meu raciocínio, e principalmente como eu controlo a emoção para me isentar das preferências de escolha. Poderia agora expandir a frase para: “eu sou um físico que carrega uma medalha de São Judas Tadeu no meu peito”. Mas não sou católico, na assertiva mais aceita da adjetivação. Isto provocou uma espécie de indignação num garçom que conheci em Milão. Ele abriu seus braços quase na amplitude de aplicar um abraço, olhou para o belo teto vitral da galeria Vittorio Emanuele, embora procurasse representar que fitava os céus, e montou uma expressão facial como se dissesse: perdoe-o, ele não sabe o que fala! E eu ainda acrescentei: comprei no Vaticano, e banhei por três vezes na primeira pia batismal que encontrei na Catedral de São Pedro. A expressão virou um balançar de cabeça que dizia: não, não, não, não. Você deve estar pensando por que três? Ah! Na Cabala o número três significa luz. Mas por que não sete, que representa o triunfo do espírito sobre a matéria? Será que utilizei a numerologia, onde o número três regula a criação e a criatividade? Ou utilizei o sistema pitagórico, onde o três é reservado para os artistas e escritores? Bem! O número três foi escolhido apenas por um acordo entre eu e o meu filho para estabelecermos um ritual mínimo, e o seu significado é ainda mais minimalista: gostamos dele! Afora o gracejo, este sou eu: livre, mas que respeita a necessidade de rituais e celebrações com o divino, e que também sente falta do entendimento do meu significado dentro do mundo, dentro da existência e da humanidade. 

Um comentário:

  1. Muito interessante seu modo de analisar sua religiosidade. Estamos na constante busca do significado de nossa existência. Somente a introspecção e meditação possa nos dar tal resposta.

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