sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Constatação


Não há nada neste quarto, nem uma sombra de quem já foi. Não há nada além de objetos que não representam nada além de funcionalidades. Mesmo naquele quadro da Toscana, pendurado quase no canto, não há ninguém que caminha pela relva. Nem a aquarela de Ouro Preto, nem o lenço do Azerbaijão, nem o perfil em relevo de Pablo Neruda dão mais as mãos para quem quer que seja. Assim, uma lágrima percorre meu rosto, mas não é de comiseração, nem de autopiedade. Eu diria que ela é apenas uma testemunha líquida da represa no meu peito, que estanca séculos de paixões. Na imensidão do meu coração, os dias passam escorregadios, sem rédeas que os levem para a felicidade. Um após o outro, são marcados com um xis de passado. Um após o outro levam os sonhos para o cemitério do esquecimento.

Um comentário:

  1. O vazio que atalha o coração pode ser cruel, mas quando repletos de lembranças palpáveis e tão significativas não se esvai com o tempo! Não cai no esquecimento!

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