Antes eram os fragmentos das paixões. Agora os anos os tornaram mais contemplativos. Com o tempo, o pensamento adulto se transforma numa mistura de lógica e emoção, e a intensidade dos arroubos é entregue mais pela personalidade do que pelos hormônios.
quarta-feira, 21 de janeiro de 2015
Os Dias
Por quantas pessoas eu passo durante o meu dia? Cem, quinhentas, mil? São tantos sonhos, ambições, desejos e princípios que eu fico a imaginar como se pode ser tão sozinho no meio de uma cidade que é feita de pessoas. Com certeza há prédios, mas elas estão lá dentro. Certamente há carros, mas eles não andam por si só. E recentemente aconteceu-me algo que me pôs nesta reflexão. Ontem, enquanto tomava meu café perto do Pateo do Collegio, conheci a Meire. Conheci? Por dois anos eu cruzava com ela na rua. No começo, não nos olhávamos. Depois, corroborados pelo excesso de vezes, começamos a compartilhar alguns olhares, seguidos de cumprimentos sutis com a cabeça ou com o sorriso. Porém, somente ontem ficamos lado a lado no balcão de uma cafeteria. Comentei esta situação com ela e achamos graça. Por fim, nos apresentamos e conversamos um pouco. Coisas simples, sobre a coincidência, onde trabalhávamos e o que fazíamos. Despedimo-nos e seguimos nossos próprios caminhos. Levei comigo a impressão de ter conhecido uma simpática pessoa e pensei: quantas Meires estão entre as milhares de pessoas que passam pelo meu caminho?
Meios, ações e disponibilidade. A rigor, são os insumos da vontade, que permeia esta busca por uma pessoa que complementaria os dias. Disse “os dias”? Curioso! Este substantivo me veio ao léu depois de uma fração de momento. Poderia falar qualquer coisa, talvez “vida”, ou “destino”, mas falei “dias”. Cotidiano! E o vernáculo trouxe algo bem do fundo do meu íntimo. Estou feliz, mas ao olhar para o lado não consigo compartilhar estes momentos de serenidade com alguém. Meus dias são sempre desafiadores. Sempre há algo para refletir, pensar, montar estratégias, resolver, arbitrar, decidir. Mas há poucos eventos para contemplar. Como um olhar de menina, um beijo, um sonho. Ou aquela carícia que invade a alma e toca o coração, te vira pelo avesso e se perpetua pelos... dias. Esta brincadeira com o tempo literalmente não tem fim. Posso sonhar à noite e vivenciar o dia, como também eu posso vivenciar os sonhos pelas noites e pelos dias. O tempo da minha alma pode ser fugaz, fruto da paixão; pode ser etéreo, substanciado de alma; ou pode ser eterno, adornado pelo amor. Posso viver toda a minha vida em um minuto, e o porvir em séculos. Tudo dependerá da intensidade e devoção que dedicarei à minha causa e à minha busca, vestidas pelos tempos necessários para consumar a paz de ser amplamente feliz.
(ficção)
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Profundas reflexões d'alma traduzidas pela sensibilidade sensorial. Felicidades!
ResponderExcluirObrigado Claudinha. Um grande beijo em ti, na tua mãe (que tanto gosto) e na Kátia. Saudade dos tempos da nossa juventude!
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