segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Solidão.

"Asylbewerber03" by Andreas Bohnenstengel - http://andreasbohnenstengelarchiv.de/categories.php?cat_id=178. Licensed under CC BY-SA 3.0 via Wikimedia Commons - http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Asylbewerber03.jpg#mediaviewer/File:Asylbewerber03.jpg

Um olhar passeia pelo quarto vazio e percebe os mesmos móveis, que me acompanham há tantos anos. São as mesmas cores, os mesmos traços, os mesmos quadros. Parece que este que sou também me acompanha há muito tempo. Sou eu mesmo, sem nada a mais de relevante na personalidade, sem nada a menos porque não há muito o que perder. São as mesmas palavras, mas estão mais caladas, mais difíceis de encontrarem a liberdade para fora da boca; para fora do coração. Traduzem apenas um vasto silêncio que se estende até onde minha percepção investiga. Não há mais rastros daquela que por aqui passou. Os vestígios de alguém, que denunciariam talvez uma paixão, ou aquela incerteza confusa de sentimentos que constrói uma saudade, por ínfima que seja, já não podem mais ser vistos ou pressentidos. Decerto há um buraco no coração, há um buraco na vida e houve uma luz que se apagou para escurecer o meu cotidiano. A vida é realmente estranha. Nascemos sozinhos e passamos boa parte dela com nossos pais. Convivências distantes, que de certa forma se alheiam do processo de amadurecimento. Aí vem os amigos, que tagarelam, gracejam e zombam de tudo que pode ser colocado ou pensado nos dias. Vive-se como se com eles fôssemos herdar a eternidade. Depois ela aparece, rouba-te toda a significação da vida e te despoja de qualquer ambição que se possa caracterizar como própria. Entrega alguma coisa, de fato, mas logo leva tudo consigo. Por fim, novamente somos meninos, com a presença de alguém aqui e ali, cada vez mais rara, e sempre alheada do que você é. A única diferença é que há menos vozes, menos entusiasmo e menos vida.

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