terça-feira, 5 de janeiro de 2016

O Nada e o Mar

"Along the Coast-Alfred Bricher" by Alfred Thompson Bricher - artrenewal.org. Licensed under Public Domain via Wikimedia Commons - https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Along_the_Coast-Alfred_Bricher.jpg#/media/File:Along_the_Coast-Alfred_Bricher.jpg

O império do vazio! Não haverá subterfúgios para contemplarmos a infinitude do nada. O ser é provisório, o nada permanente. Caminho despejado dos meus pensamentos, desprovido de perguntas. É inverno e o vento lança as gotas eriçadas das cristas das ondas, que crepitam geladas na minha face. Chão úmido de sensação congelada, o mar me toca com braços amplos. Deseja-me. Abro os meus braços como prévia de amplexo para mergulhá-lo. Nego-o. Sigo meu caminho pela orla, mantendo-me no abissal desde a minha vontade e o mar. Somos apartados pelo destino. Não enfrento suas ondas e suas tempestades. Não marinho pelo seu corpo porque ela está em outro vazio. Ela? Um rosto? Não! Ela é o nada que nada pode, que nada navega, que nada sonha pelas tranças da maré que nunca a levou. Esqueço-a porque sua existência foi tão efêmera em mim, quanto este filhote de cão que agora me acompanha. Olhos grandes pedintes, mendicantes. Tenho certeza que são os meus olhos, os mesmos que lhe negam súplica. Mas ele ainda me segue, em direção ao nada que somos e seremos. Numa persistência que imita esta vida inútil. Quiçá me siga a sete palmos, quiçá no escritório teatral que protagonizo. O amplo mar e o mísero cachorro. Estou no meio disto para sempre.

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