terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Prelúdio do Adeus


Pelo que sei, não mais cativo teus pensamentos como antes. O som da minha voz se cala na ausência do teu olhar, assim como meu abraço envolve o vazio do teu corpo. Pelo que sinto, já não mais tenho o teu amor. É! Não há mais vestígios da desenfreada paixão que explodia louca, acasulada na casa, alteada na cama. Não mais te sinto, apenas te quero no fio tênue de uma vontade remoída de lembranças de outrora. Não mais sinto o pulsar daquele coração jovem, que turbilhonou minha vida e a tornou rodeada de sonhos e esperanças, de planos e desejos, de dias além dos dias. Nada mais és do que uma sombra daquela luz distante que clareou nossa loucura. Tens um rosto, mas as expressões te escaparam. Tens um corpo que apenas se deita e se deixa. Tens mãos que apenas tocam sem a substância, sem ardor. Tens um olhar furtado, perdido por falta de contemplações.

Ah! Minha querida! Onde estás? O que ocorreu? Suas palavras soam como não ditas, ou mal ditas, ou malditas.  Seu caminhar cambaleia por entre os móveis, querendo fugir desta casa, mas sem ter para onde ir. Estás prisioneira dentro de si, ensimesmada. É a pior prisão possível porque não se vê os muros, as paredes e as grades. Construíste esta jaula frustração após frustração. Enterraste os sonhos, abrandaste os desejos. Enterraste a si, abandonaste os anseios. Viraste um corpo que vaga vagarosamente pela vida e que não procura no amanhã o ontem.

Acorda amor! O tempo urge com a imposição de menos dias no calendário. Haverá um fim, certamente, mas deixe-o para quando tudo desaparecer. Para quando não houver o limbo entre o que somos e o que gostaríamos de ser. Ouça isto como uma súplica sussurrante, uma ladainha que se procura impregnar na tua esperança. Ouça-a como uma oração que pede o teu renascimento, e antecipadamente agradece pela graça improvável. Ouça-a como uma mulher, não como um espantalho a assustar os nossos voos.

Um comentário:

  1. Olá!
    Retrata uma pessoa com receio de seguir em um relacionamento devido as frustrações do passado.
    Tudo na vida é um aprendizado e creio que na vida nada acontece por acaso.O calendário não espera e temos que viver, arriscar e sempre ter esperança.

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