domingo, 8 de janeiro de 2017

Guarde Meus Sentimentos

By Jiri Hodan [Public domain], via Wikimedia Commons

Não me é permitido dar-lhe o meu coração. Há uma eternidade dentro dele que não se contém e que eu gostaria de abortar seus momentos em tua vida. Mas não posso dar-lhe o meu coração, somente os meus sentimentos que nele estão. Apenas não os corporifico em tua pele, em teu sopro de homem. Não quero o sangue do meu coração como hemorragia da tua paixão, se debatendo dentro do meu peito para sentir-me penetrada no íntimo dos meus desejos. Quero apenas fechar os olhos para materializá-lo em suposta presença e sussurrar as vozes da minha alma. Levarei as minhas mãos até o teu rosto para nele repousar de uma vida fatigada. Quero tocá-lo com a calma dos dias vindouros, relegados à uma ausência de corpos. Quero decorar a tua face com o desenho miúdo e suave das minhas mãos. Quero sentir o teu sorriso com a sensibilidade de uma cega, que persegue o calor da tua tez, a umidade dos teus lábios e das lágrimas que sofrem a separação.  Sentirei o teu abraço a me apertar e a travessura das tuas mãos a me explorar. Ouvirei as batidas suaves do teu coração a ritmar minha vida. Ah! Você me tem não tendo; você me quer não querendo. Serei sempre apenas palavras na concessão da minha sensibilidade, que você a tem. Serei apenas uma mulher nos sons que tumultuam tua percepção, que marejam os teus olhos e embargam tua voz. E você será sempre um homem em sofrimento por não ser capaz de amar.

Então recebe os meus sentimentos e os guarde como um tesouro atemporal. Encontrará neles a jovialidade já esquecida e a maturidade que nos faz unidos pela solidão. Terás todas as chaves do que sinto para me encontrar em qualquer instante, em qualquer distância. Guarde-os como numa caixinha de música e se baile nos meus sonhos.

Por sugestão de Ana Claudia Mello

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