quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Sphinx (Esfinge)

By Jean-Léon Gérôme - The Yorck Project: 10.000 Meisterwerke der Malerei. DVD-ROM, 2002. ISBN3936122202. Distributed by DIRECTMEDIA Publishing GmbH., Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=151554


In the pursuit of finding what is not expected, I find myself facing a mirror. Somebody could say that it is casual, perceived by chance within the fragmented walk inside my house. In this coming and going, I appeared before me: a tired figure, with half-closed eyes that seem to show an existential drowsiness, or solitude, for those who do not cling to alleged adjectives. Yes! This trance of always talking with me, or with my existence, with words that only I listen, even those said, makes me a company to be sensitized to those omens that form the thoughts. Like those ideas that could bury themselves in ostracism or remain in the aridity of the desires of those who have had them, and now only keeps the memories of the most tumultuous days, full of experiences and hopes.

So, to trap everything that floats around the room, I'll write. And writing is like freeing yourself from those reflections that live around the perception. If they are retained only by the inner semantics of the heart, they behave like birds in the cage, and only those who are close can hear the chants or grunts. Only I am close, and I will not appeal to a false pretense of saying that what I carry with me takes years of meditations and some convictions. Nor will I say that certainty lodges in the deepest and most obscure part of my heart. I will only conclude that there is someone there, perhaps a consciousness, or what is ethereal eternalized by a supposed perenniality of words. Nothing is endless: neither time, nor dreams. We are scattered through a window of reality, but we do not go forward because our horizon does not exceed a few decades. Continuity can be an ignoble reverie or a oneiric and unreal apprehension. What I say here will contemplate the ephemerality of tomorrow, or next week, and nothing more. In all philosophies, vain or not, what is proposed is nothing more than an extension of the wanting, of a surplus of existence by the vague texts. I can captivate you, I can seduce you, I can love you, but at the end I will be forgotten and the dust, to which I will become, will only dust your remembrances. However, there is no discouragement in words, only temporality. There is no melancholy in desires, only reality. The indecipherable life will continue in others, will delineate the will in other pages, in other languages and in other sensibilities. What is written here will not remain, fugitive that is of the mind, but they may rise again and die again. Like a sphinx in the desert, it can take a long time for marks to reduce their beauty. Or it may seem an improbable comet, which strikes a gleam in the darkness of longing, for a few days later disappear.

--- x ---

No encalço de encontrar o que não se espera, me vejo defronte a um espelho. Poderia dizer que ele é ocasional, percebido por casualidade dentro do caminhar fragmentado dentro da minha casa. Neste ir e vir, eu apareci diante de mim: uma figura cansada, de olhos semifechados que parecem mostrar uma sonolência existencial, ou solidão, para quem não se apega a pretensas adjetivações. Sim! Este transe de sempre conversar comigo, ou com minha existência, com palavras que somente eu ouço, mesmo as ditas, faz de mim uma companhia para se sensibilizar com aqueles presságios que formam os pensamentos. Como aquelas ideias que poderiam se enterrar no ostracismo, ou permanecerem baldias na aridez dos desejos de quem já os teve, e que agora apenas guarda as memórias dos dias mais tumultuados, repletos de experiências e esperanças.

Então, para prender tudo que flutua pela sala, ponho-me a escrever. E escrever é como se libertar daquelas reflexões que vivem rondando a percepção. Se forem retidas apenas pela semântica interna do coração, se comportam como aves na gaiola e apenas quem está perto consegue ouvir os cantos, ou grunhidos. Somente eu estou perto e não vou apelar para uma falsa pretensão de dizer que, o que carrego comigo, leva anos de meditações e algumas convicções. Também não vou dizer que a certeza se hospeda no mais profundo e obscuro do meu íntimo. Apenas vou compactuar que existe alguém ali, talvez uma consciência, ou o etéreo eternizado por uma suposta perenidade de palavras. Nada é infindável: nem o tempo, nem os sonhos. Somos espalhados por uma janela da realidade, mas não seguimos avante porque nosso horizonte não passa de algumas décadas. A continuidade pode ser um devaneio ignóbil ou uma apreensão onírica e irreal. O que eu disser aqui vai contemplar a efemeridade do amanhã, ou da semana que vem, e nada mais. Em todas as filosofias, vãs ou não, o que se propõe não passa de um prolongamento do querer, de um sobrestamento de existência nas vagas dos textos. Posso te cativar, posso te seduzir, posso te amar, mas no final das contas serei esquecido e o pó, ao qual me tornarei, somente vai empoeirar tua lembrança. Entretanto, não há desalento nos dizeres, apenas temporalidade. Não há melancolia nos desejos, apenas realidade. A indecifrável vida vai continuar em outrem, vai delinear a vontade em outras páginas, em outros idiomas e em outras sensibilidades. O que está escrito aqui não vai permanecer, fugidio que é da mente, porém podem ressurgir e novamente morrer. Como uma esfinge no deserto, pode levar muito tempo para que as marcas reduzam sua beleza. Ou pode parecer um cometa improvável, que risca um brilho na escuridão da saudade, para poucos dias depois desaparecer.

sábado, 29 de setembro de 2018

The Forgiveness Refuge (O Refúgio do Perdão)

National Portrait Gallery (London) - Vilhelm Hammershøi - Interior

I no longer have the silence where I took refuge, because there is no more stillness in my soul. I would like to absolve myself of the past elapsed, with the indolence of the abandonment of dreams, with the isolation of my will. I met interesting people as well as those just interested in what I could give. I got drunk on endless confraternities and parties in an attempt to find what does not exist inside me and thus, unfortunately, the building of who I am has been lost in the obsolescence of who I wanted to be. As a consequence, the perseverance of living found the astonishment of solitude. Yes! By her I knew the world, I wandered through the cultures and I ate with the miserable people. I have watched the vast and beautiful landscapes of this world, the humid breezes of the woods far from the roads, the forgotten streams near the mountains, the exotic cities from places so far away that I can hardly find them on the maps. For her I thought that happiness was a gift of love and passion was the permission of the insistence on desiring her, even without having her by my side to say:

- Laura, I'm home!

I opened the door, but nobody is in the room. For a moment, an icy feeling almost interrupts my breathing. I do not know how long my hesitation held me by the doorframe. It may have been seconds, but they haunted like an eternity. The sofa was there, on the way I saw it when I left the house. There was nothing different, except a terrifying silence. So, I insisted with a firmer and more intense voice, hoping to be heard.

- Laura

My footsteps dragged my body through the tight rooms, avoiding the furniture and penetrating in the gloom imposed by the closed windows. I thought of hate. Not in mine, because I am unable to keep any intense feeling, but in hers. I left her smile with the sure that she would be better without my prostration. For having the conviction that the cheerful drawing of her lips would adorn her through the sweaty days, without the storm of my presence. Deserved relief, or the redemption for the false desires. But I know it was not this way I really thought. They are only excuses of obtuse reasoning that only served to push my will into the distance, as far as I could go from the realization of my unhappiness. And then, in the emptiness, without the exercise of living, it is where feelings grow. Through longing, love grows. Through heartache, hatred expand itself. However, before I could be certain, my walk threw me into the bedroom where she was.

- Laura!

It was her face, but it was not her, or it was not who I knew. There was no expression like contentment, sadness or anger. Not even the hate. There wasn't no gleam in the eyes and barely there was a looking. And I had no explanation, I had no reason and I had no wanting. We were without anything because we were nothing apart. We were speechless because we had been silent for a long time. We were without passion because we exhausted it in the few months after we met. We were not there, where we've never been. Of all, there were barely any remembrances of entwining bodies, of lying phrases of support and of deceptive yearnings that should not be nurtured. A solitary man and lonely woman who shared their immense and immortal isolations.

- x - 


Não tenho mais o silêncio onde me refugiava porque não há mais a quietude na minha alma. Gostaria de me absolver do tempo passado, com a indolência do abandono dos sonhos, com o isolamento do meu querer. Porém, infelizmente, a construção de quem sou se perdeu na obsolescência de quem eu queria ser. Encontrei pessoas interessantes, bem como aquelas apenas interessadas. Fiquei bêbado em intermináveis confrarias e festas numa tentativa de encontrar o que não existe dentro de mim. Como consequência, a perseverança do viver encontrou o espanto da solidão. Sim! Por ela conheci o mundo, vaguei pelas culturas e comi com os miseráveis. Observei as paisagens amplas e belas deste mundo, a brisa úmida dos bosques longe das estradas, os riachos esquecidos perto das serras, as cidades exóticas de lugares tão distantes que eu mal consigo encontra-los nos mapas. Por ela pensei que a felicidade era um presente do amor e a paixão era a permissão da insistência em desejá-la, mesmo sem tê-la ao meu lado para dizer:

- Laura, cheguei!

Abri a porta, mas ninguém está na sala e, por um momento, um sentimento gelado quase interrompe minha respiração. Não sei quanto tempo minha hesitação me prendeu junto ao batente. Podem ter sido segundos, mas assombraram como se fossem uma eternidade. O sofá estava lá, do mesmo jeito que o vi quando fui embora. Não havia nada diferente, a não ser um silêncio aterrador. Então, eu insisti com uma voz mais firme e mais intensa, na esperança de ser ouvido.

- Laura

Os meus passos arrastavam meu corpo pelos cômodos apertados, evitando a mobília e penetrando na penumbra imposta pelas janelas fechadas. Pensei no ódio. Não no meu, porque sou incapaz de guardar qualquer sentimento intenso, mas no dela. Eu deixei o seu sorriso por ter a certeza de que ela estaria melhor sem a minha prostração. Por ter a convicção que o desenho alegre dos seus lábios a enfeitariam pelos suados dias, sem a tormenta da minha presença. Um alívio merecido, ou uma redenção pelos falsos desejos. Porém, eu sei que não era desta forma que eu realmente pensava. São apenas escusas de raciocínio obtuso que serviam apenas para empurrar minha vontade para o longe, o mais longe que eu pudesse ir da constatação da minha infelicidade. E então, no vazio, sem o exercício do viver, é onde sentimentos se avolumam. Pela saudade, cresce o amor. Pela mágoa, agiganta-se o ódio. Entretanto, antes que eu pudesse ter qualquer certeza, meu caminhar me jogou para dentro do quarto onde ela estava.

- Laura!

Era o rosto dela, mas não era ela, ou não era quem eu conhecia. Não havia nenhuma expressão como contentamento, tristeza ou raiva. Nem mesmo ódio. Não havia brilho nos olhos e mal havia um olhar. E eu não tinha explicações, não tinha razões e não tinha o querer. Estávamos sem nada porque não éramos nada separados. Estávamos sem palavras porque estas já tinham se calado há muito tempo. Estávamos sem paixão porque a exaurimos nos poucos meses após nos conhecermos. Não estávamos lá, onde nunca estivemos. De tudo, mal restou algumas lembranças dos corpos se entrelaçando, das frases mentirosas de apoio e dos anseios enganosos que não deveriam ser nutridos. Um homem e uma mulher solitários que compartilhavam seus imensos e imortais isolamentos.


terça-feira, 11 de setembro de 2018

Wings of Icarus (Asas de Ícaro)

Science Museum (London)

This indolent horror persists from dawn to the nightmarish storms. It preaches in my ears its melancholic litany with an atonal and dragged voice. The sound looks like grieve song; which impregnates my reason and indelibly pervades itself in the few yearnings that survived through the years. For more there are thoughts that try to abstract me; for more charms that parade through my iris, the continuous whining deafen the daily life and eclipse my horizon, if there is one. I well know that there is a day after the night that is approaching, but I also know that this day will not be different from what has passed. There is no difference between the weeks, the months and the years when there is no longer the chilling of hope. Life has ended on a precipice and the next step will not have the future.

It was not always like this. Before, the beauty was seen and felt by a young look that opposed the transgressions of civility that spread through the streets. Happiness was translated by dreams, and the city faded into nonexistent colors, robbed of the imagination of other moments captured by sensibility. The gray was painted with paintbrushes of trust in life. The colors of Van Gogh spellbind the instants and there was a woman. The same woman who had the soft traces of seduction, the glitter of passion in her look and the touch of silk in her hands. She was there with her dresses dancing with the breezes, with her perfume rivaling the flowers. She was beautiful and still is what I remember. Life was an endless road with her. With her I could lose the track for a moment, but the road was never far away. The designs of fertility were in everything: at work, in sex, in family, in friends, and in everything that was seen. Feeling was a consequence of experiencing and dreaming was synonymous of accomplishment. I needed to fly.

I do not understand the reasons for nonconformism of human being. Even when we are happy and healthy, we have the urge to venture into the unknown. Perhaps we are motivated by the fear of emptiness or, what is equivalent, by the dread of stagnation. Our inner self is noisy and has aversion to silence and, when the ideas are silenced, the desires are buried. Thus, we begin to walk through the life as puppets in the invisible hands of quotidian. Our spontaneity becomes a shadow in the penumbra and scarcely could be perceived that it exists. The streets stretch across the city and the gray come back to tint all the urban environment. The decadence of the town stampedes itself in the eyes, the foul odor takes away the supposed perfume and the garbage dumps in the bowels of the perception. Slowly the perishing is approaching until that old dream of flying comes.

And we flew into space without roads.

And I flew away from you.

-- x --

Este horror que se deixa indolente, persiste desde a aurora até a tormenta dos pesadelos. Prega nos meus ouvidos sua ladainha melancólica com uma voz atonal e arrastada. Parece a de carpideiras e se impregnam na minha razão e velam de forma indelével os poucos anseios que sobreviveram aos anos. Por mais que existam pensamentos que me tentam abstrair, por mais encantos que desfilam pela minha íris, os lamentos ensurdecem o cotidiano e eclipsam o meu horizonte, se é que há um. Eu bem sei que há um dia depois da noite que se aproxima, mas eu também sei que este dia não será diferente deste que passou. Não há diferenças entre as semanas, os meses e os anos quando não há mais o acalento da esperança. A vida terminou num precipício e o próximo passo não terá mais o futuro.

Nem sempre foi assim. Antes, a beleza era vista e sentida por um olhar jovem que se opunha as transgressões de civilidade que se espalham pelas ruas. A felicidade era traduzida pelos sonhos e a cidade se fantasiava em cores inexistentes, roubadas da imaginação de outros momentos capturados pela sensibilidade. Pintava-se o cinza com pincéis da confiança na vida. Cores de Van Gogh alucinavam os instantes e havia uma mulher. A mesma mulher que possuía os traços suaves da sedução, o brilho da paixão no olhar e o toque de seda em suas mãos. Ela estava lá com seus vestidos a dançar com as brisas, com seu perfume a rivalizar com as flores. Ela estava linda e ainda o é naquilo que me lembro. A vida era uma estrada infinda com ela. Com ela, eu poderia perder o rumo por alguns instantes, mas a estrada nunca ficava distante. Os desígnios da fertilidade estavam em tudo: no trabalho, no sexo, na família, nos amigos e em tudo que se via. Sentir era consequência do experimentar e sonhar era sinônimo de realizar. Eu precisava voar.

Eu não compreendo as razões do inconformismo do ser. Mesmo quando estamos felizes e saudáveis, temos o impulso de nos aventurarmos em direção ao desconhecido. Talvez sejamos motivados pelo medo do vazio ou, o que é equivalente, pelo temor da estagnação. Nosso íntimo é barulhento e tem aversão ao silêncio e, quando as ideias se calam, os desejos se enterram. Assim, começamos a passear na vida como fantoches nas mãos invisíveis do cotidiano. Nossa espontaneidade vira uma sombra na penumbra e mal se pode perceber que ela existe. As ruas se estendem pela cidade e o cinza volta a matizar todo o ambiente. A decadência da urbe se estampa nos olhos, o cheiro fétido arranca o perfume suposto e o lixo se avoluma nas entranhas da percepção. Lentamente o perecimento se aproxima até que vem aquela antigo sonho de voar.

E voamos para o espaço sem estradas.

E eu voei para longe de ti.

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Um Passo Após Outro

By Swedish National Heritage Board from Sweden - A wintry walk in Humlegården Park, Stockholm, Sweden, No restrictions, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=51415416


Um passo após outro,
sigo ou persigo um caminho
que se deita indiferente no horizonte.
Arrasto os pés no silêncio de ser escutado,
que ecoa no vazio do destino.
Passo por passo,
passo por trilhas,
turvas pelo cansaço de um corpo lasso
e abandonado pela mente e pelo desejo.
Sigo ou persigo,
nem bem ao certo sei o que o passar quer.
Talvez queira ser só um passar,
ou talvez seja um atravessar.
Insisto e resisto no ir,
para não mais vir.
Carrego uma alma largada,
na bênção desejada pela redenção do querer,
na tortura de querer o que já se tem.
Carrego uma alma passada,
pelos anos que não mais voltam
e pela mente que a ignora.
Carrego uma alma lavada
pelas águas das lágrimas ressentidas,
que assistem e desistem no calar.

(inspirada a partir de uma semente deixada por Malu Carrara de Sambuy)

domingo, 25 de março de 2018

Adeus



Agora estou só. Desliguei o celular e os sons que por vezes lembram uma existência. Eu poderia dizer que descanso a minha mente, mas minto. Não se descansa um mar revolto com mais ventos, não se acalma uma fera esfomeada. O que mais me incomoda é que meu grito não vai muito além destas paredes e as minhas palavras se enterram em si mesmas, com um frontispício de pretensa elegância para a surdez de ouvidos imaginários. Penso que os ditos abririam o meu coração, petrificado e maltratado, mas somente carregam palavras absortas da essência. Não ferem a pasmaceira incauta, não derrubam falsos horizontes, não denunciam uma solidão eterna. São apenas dizeres ditos a duras penas. São frases que não iluminam, apenas se obscurecem com o negrume de quem sou. Um pálido ponto negro dentro da luz da humanidade. Ofereço-te dor, pois é tudo que eu tenho. Nem lágrimas posso te dar porque a emoção foi embora, para outros braços abraçarem, sem o meu corpo despido de alma. Não posso te dar um futuro porque meu passado avança sobre ele e deixa os rastros de frustração. Não posso te dar o passado porque ele se encolhe no excesso de anos que se acumulam em calendários. Aquela criança sonhadora não está mais aqui. Não posso te dar o presente porque estou triste e não seria um presente, apenas um fardo que se carrega com lombo calejado. O que eu posso sinceramente dizer é um adeus. Uma singela despedida da pouca vida que tenho e que se posterga insistentemente pelos anos. Se estende indevidamente e se insinua entre o teu colo indesejoso e as pessoas ansiosas por ignorância. É! É possível que você também ignore tudo isso porque um “adeus” também não passa de uma palavra dita pelo mesmo ponto escuro. Este “adeus” talvez não seja uma despedida, porque quem aqui está já se foi há muito tempo na tua mente.

Ahora estoy solo. He apagado el teléfono y los sonidos que a veces recuerdan una existencia. Podría decir que descansar mi mente, pero miento. No se descansa un mar revuelto con más vientos, no se calma una fiera hambrienta. Lo que más me molesta es que mi grito no va mucho más allá de estas paredes y mis palabras se entierran en sí mismas, con un frontispicio de pretendida elegancia para la sordera de oídos imaginarios. Pienso que los dichos abrirían mi corazón, petrificado y maltratado, pero sólo cargan palabras absorbentes de la esencia. No hieren la pasmada incauta, no derriban falsos horizontes, no denuncian una soledad eterna. Son sólo dichos dichos a duras penas. Son frases que no iluminan, apenas se oscurecen con la negrura de quien soy. Un pálido punto negro dentro de la luz de la humanidad. Te ofrezco dolor, pues es todo lo que tengo. Ni lágrimas puedo darte porque la emoción se fue, para otros brazos abrazar, sin mi cuerpo desnudo de alma. No puedo darte un futuro porque mi pasado avanza sobre él y deja los rastros de frustración. No puedo darte el pasado porque se encoge en el exceso de años que se acumulan en calendarios. Aquel niño soñador ya no está aquí. No puedo darte el regalo porque estoy triste y no sería un regalo, sólo una carga que se carga con lomo calejado. Lo que puedo sinceramente decir es un adiós. Una sencilla despedida de la poca vida que tengo y que se posterga insistentemente por los años. Se extiende indebidamente y se insinúa entre tu cuello indeseado y las personas ansiosas por ignorancia. Es! Es posible que usted también ignore todo esto porque un "adiós" tampoco pasa de una palabra dicha por el mismo punto oscuro. Este "adiós" tal vez no sea una despedida, porque quien aquí está ya se ha ido desde hace mucho tiempo en tu mente.

Now I'm alone. I turned off the cell phone and the sounds that sometimes resemble an existence. I could say that I rest my mind, but I lie. No restless sea rests with more winds, a starving beast does not calm down. What bothers me the most is that my cry does not go far beyond these walls and my words burrow in on themselves, with a frontispiece of pretentious elegance for the deafness of imaginary ears. I think the sayings would open my heart, petrified and mistreated, but only carry words absorbed in the essence. They do not hurt the unsuspecting stench, they do not overturn false horizons, they do not denounce an eternal solitude. They are just said with great difficulty. These are sentences that do not illuminate, but are obscured by the blackness of who I am. A pale black spot within the light of humanity. I offer you pain, because that's all I have. No tears I can give you because the emotion has gone, for other arms to embrace, without my body naked of soul. I cannot give you a future because my past advances on it and leaves the traces of frustration. I cannot give you the past because it shrinks in the excess of years that accumulate in calendars. That dreamy child is no longer here. I cannot give you the gift because I'm sad and it would not be a gift, just a burden that is loaded with calloused loin. What I can honestly say is goodbye. A simple farewell of the little life that I have and that is persistently put off by the years. It stretches out unduly and creeps between your undesirable lap and the people anxious for ignorance. IT IS! You may also ignore all this because a "goodbye" is also just a word spoken by the same dark spot. This "goodbye" may not be a farewell, because who is here is long gone in your mind.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Silhueta


Na ausência do teu corpo, desenho tua silhueta na minha lembrança. Como um pretenso artista que engana a realidade ao ornar de sentimentos os traços que imagina, contorno lentamente teu semblante, que se apega num sorriso tênue e ligeiramente começado. Ergo a mão para tocar tua boca, nos mesmos lábios macios que murmuravam cantigas antigas, escavadas daquilo que nos sobra da infância. Nos mesmos lábios que beijo, desprovido do tempo que nos separa, e sinto o teu gosto falseado por uma mente que não se conforma por ter te perdido. Traio a realidade como alguém que foge para a loucura. A mesma loucura de perpetuá-la como se o possível fosse transgredido pelo querer, como se o querer desse a permissão para derrubar o inconcebível de abraçá-la. Avesso ao inevitável, eu posso perambular pelos teus caminhos na sina de persegui-la pelos sonhos. Pelos sonhos que se tem e pelos que se vive ao inserir tua presença na alucinação que é a existência. Pelos sonhos que se tem e pelos que insisto ao inserir teu corpo no desejo da minha persistência.

Na ausência do teu corpo, desenho tua silhueta na minha lembrança. Procuro na miragem aquela mulher que vagou nas minhas torturas, quando flagelado pela obstinação de amar eternamente o que é etéreo. O amor só tem significado na eternidade, mas se esvai com o escorrer de dias no calendário. Por vezes, vai-se na aluvião da querença pelo desdito, quando se açoita a personalidade em mórbida tristeza, sem que haja uma causa consciente. Julgamo-nos imerecidos pela dádiva da paixão porque podemos ter atração pela desgraça de nos punir, de irritar o nascimento com a morte, de maldizer o que somos por não gostarmos do nosso coração. Ah! Este trapaceiro! Que sempre escolhe o intocável e macula a beleza com seus anseios lúbricos, misturados numa pureza profunda que só se explica no encontro das almas, quando nos despimos da desumanidade e mostramos as entranhas da nossa personalidade. Às vezes há algo de belo lá, às vezes não. De qualquer forma, nem sempre gostamos do encanto do que se sente, mesmo quando ele se estende como um pôr do sol dentro do nosso peito. Basta um olhar testemunhado por uma lágrima. Pois a íris, quando imersa em emoção, é tão bela quanto todas as poesias criadas, todos os quadros pintados e todas as canções que nos cativam.

Na ausência do teu corpo, desenho tua silhueta em mim. Passo a protagonizá-la no enredo de me amar. Eterna e impunemente.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Apenas Eu


Eu poderia te pedir desculpas e dizer que nada nesta vida significa tanto para o meu coração quanto tua felicidade. Porém, as palavras não podem enterrar os sons do passado, nem inverter em pétalas a flor que murchou. Os dizeres estão tatuados no tempo, tanto quanto as feridas que não sangram.  Tanto quanto a dor calada de gritos ou murmúrios. Aviltei tua história e não consegui fazer o mesmo na minha porque não tenho para onde ir e, quem perde o destino, perde também a origem. É claro que poderia argumentar sobre fatos e situações que ocasionaram minhas contravenções da mente, ou dizer que tudo não passou de alucinações, de casos incontroláveis de ciúmes no ocaso da maturidade. Você até poderia pensar em acreditar, condizer com toques sutis de carinho. Mas seria uma mentira para o teu íntimo que, no momento certo, ele vai te cobrar em uma profunda frustração. A imagem que temos um do outro é como uma porcelana delicada. Quando a quebramos, podemos até colar com a aquiescência, mas nunca assumirá a mesma forma na nossa percepção. Oras! Às favas a percepção pois temos o sexo e a diversão. Temos o álcool e as drogas! Em um suspiro digo que não temos nada além de enxergar a efêmera presença com o vulto da miragem e com as dimensões do querer. Meus olhos podem lacrimejar emoções perpetuadas em sons, ritmos e silêncio. Posso furtar a suavidade dos teus passos para divinizá-los em minha direção. Posso caminhar em nuvens de palavras, em adjetivos adotados pelo semblante da tua beleza. Mas serei apenas eu no final das contas.

São Jorge - Saint George

  Imagem gerada pelo Midjourney São Jorge! Mostraste a coragem misericordiosa que me livrou do dragão que sempre carreguei em meu coração. I...