National Portrait Gallery (London) - Vilhelm Hammershøi - Interior
- Laura, I'm home!
I opened the door, but
nobody is in the room. For a moment, an icy feeling almost interrupts my
breathing. I do not know how long my hesitation held me by the doorframe. It
may have been seconds, but they haunted like an eternity. The sofa was there,
on the way I saw it when I left the house. There was nothing different, except
a terrifying silence. So, I insisted with a firmer and more intense voice,
hoping to be heard.
- Laura
My footsteps dragged
my body through the tight rooms, avoiding the furniture and penetrating in the
gloom imposed by the closed windows. I thought of hate. Not in mine, because I
am unable to keep any intense feeling, but in hers. I left her smile with the
sure that she would be better without my prostration. For having the conviction
that the cheerful drawing of her lips would adorn her through the sweaty days,
without the storm of my presence. Deserved relief, or the redemption for the
false desires. But I know it was not this way I really thought. They are only
excuses of obtuse reasoning that only served to push my will into the distance,
as far as I could go from the realization of my unhappiness. And then, in the emptiness,
without the exercise of living, it is where feelings grow. Through longing,
love grows. Through heartache, hatred expand itself. However, before I could be
certain, my walk threw me into the bedroom where she was.
- Laura!
It was her face, but
it was not her, or it was not who I knew. There was no expression like
contentment, sadness or anger. Not even the hate. There wasn't no gleam in the
eyes and barely there was a looking. And I had no explanation, I had no reason
and I had no wanting. We were without anything because we were nothing apart.
We were speechless because we had been silent for a long time. We were without
passion because we exhausted it in the few months after we met. We were not
there, where we've never been. Of all, there were barely any remembrances of
entwining bodies, of lying phrases of support and of deceptive yearnings that
should not be nurtured. A solitary man and lonely woman who shared their
immense and immortal isolations.
- x -
Não tenho mais o silêncio onde me refugiava porque não há mais a
quietude na minha alma. Gostaria de me absolver do tempo passado, com a
indolência do abandono dos sonhos, com o isolamento do meu querer. Porém,
infelizmente, a construção de quem sou se perdeu na obsolescência de quem eu
queria ser. Encontrei pessoas interessantes, bem como aquelas apenas
interessadas. Fiquei bêbado em intermináveis confrarias e festas numa tentativa
de encontrar o que não existe dentro de mim. Como consequência, a perseverança
do viver encontrou o espanto da solidão. Sim! Por ela conheci o mundo, vaguei
pelas culturas e comi com os miseráveis. Observei as paisagens amplas e belas
deste mundo, a brisa úmida dos bosques longe das estradas, os riachos
esquecidos perto das serras, as cidades exóticas de lugares tão distantes que
eu mal consigo encontra-los nos mapas. Por ela pensei que a felicidade era um
presente do amor e a paixão era a permissão da insistência em desejá-la, mesmo
sem tê-la ao meu lado para dizer:
- Laura, cheguei!
Abri a porta, mas ninguém está na sala e, por um momento, um sentimento
gelado quase interrompe minha respiração. Não sei quanto tempo minha hesitação
me prendeu junto ao batente. Podem ter sido segundos, mas assombraram como se
fossem uma eternidade. O sofá estava lá, do mesmo jeito que o vi quando fui
embora. Não havia nada diferente, a não ser um silêncio aterrador. Então, eu
insisti com uma voz mais firme e mais intensa, na esperança de ser ouvido.
- Laura
Os meus passos arrastavam meu corpo pelos cômodos apertados, evitando a
mobília e penetrando na penumbra imposta pelas janelas fechadas. Pensei no
ódio. Não no meu, porque sou incapaz de guardar qualquer sentimento intenso,
mas no dela. Eu deixei o seu sorriso por ter a certeza de que ela estaria
melhor sem a minha prostração. Por ter a convicção que o desenho alegre dos
seus lábios a enfeitariam pelos suados dias, sem a tormenta da minha presença.
Um alívio merecido, ou uma redenção pelos falsos desejos. Porém, eu sei que não
era desta forma que eu realmente pensava. São apenas escusas de raciocínio
obtuso que serviam apenas para empurrar minha vontade para o longe, o mais longe
que eu pudesse ir da constatação da minha infelicidade. E então, no vazio, sem
o exercício do viver, é onde sentimentos se avolumam. Pela saudade, cresce o
amor. Pela mágoa, agiganta-se o ódio. Entretanto, antes que eu pudesse ter
qualquer certeza, meu caminhar me jogou para dentro do quarto onde ela estava.
- Laura!
Era o rosto dela, mas não era ela, ou não era quem eu conhecia. Não havia nenhuma expressão como contentamento, tristeza ou raiva. Nem mesmo ódio. Não havia brilho nos olhos e mal havia um olhar. E eu não tinha explicações, não tinha razões e não tinha o querer. Estávamos sem nada porque não éramos nada separados. Estávamos sem palavras porque estas já tinham se calado há muito tempo. Estávamos sem paixão porque a exaurimos nos poucos meses após nos conhecermos. Não estávamos lá, onde nunca estivemos. De tudo, mal restou algumas lembranças dos corpos se entrelaçando, das frases mentirosas de apoio e dos anseios enganosos que não deveriam ser nutridos. Um homem e uma mulher solitários que compartilhavam seus imensos e imortais isolamentos.
- Laura!
Era o rosto dela, mas não era ela, ou não era quem eu conhecia. Não havia nenhuma expressão como contentamento, tristeza ou raiva. Nem mesmo ódio. Não havia brilho nos olhos e mal havia um olhar. E eu não tinha explicações, não tinha razões e não tinha o querer. Estávamos sem nada porque não éramos nada separados. Estávamos sem palavras porque estas já tinham se calado há muito tempo. Estávamos sem paixão porque a exaurimos nos poucos meses após nos conhecermos. Não estávamos lá, onde nunca estivemos. De tudo, mal restou algumas lembranças dos corpos se entrelaçando, das frases mentirosas de apoio e dos anseios enganosos que não deveriam ser nutridos. Um homem e uma mulher solitários que compartilhavam seus imensos e imortais isolamentos.