By Jean-Léon Gérôme - The Yorck Project: 10.000 Meisterwerke der Malerei. DVD-ROM, 2002. ISBN3936122202. Distributed by DIRECTMEDIA Publishing GmbH., Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=151554
So, to trap everything that floats around the room, I'll write. And writing is like freeing yourself from those reflections that live around the perception. If they are retained only by the inner semantics of the heart, they behave like birds in the cage, and only those who are close can hear the chants or grunts. Only I am close, and I will not appeal to a false pretense of saying that what I carry with me takes years of meditations and some convictions. Nor will I say that certainty lodges in the deepest and most obscure part of my heart. I will only conclude that there is someone there, perhaps a consciousness, or what is ethereal eternalized by a supposed perenniality of words. Nothing is endless: neither time, nor dreams. We are scattered through a window of reality, but we do not go forward because our horizon does not exceed a few decades. Continuity can be an ignoble reverie or a oneiric and unreal apprehension. What I say here will contemplate the ephemerality of tomorrow, or next week, and nothing more. In all philosophies, vain or not, what is proposed is nothing more than an extension of the wanting, of a surplus of existence by the vague texts. I can captivate you, I can seduce you, I can love you, but at the end I will be forgotten and the dust, to which I will become, will only dust your remembrances. However, there is no discouragement in words, only temporality. There is no melancholy in desires, only reality. The indecipherable life will continue in others, will delineate the will in other pages, in other languages and in other sensibilities. What is written here will not remain, fugitive that is of the mind, but they may rise again and die again. Like a sphinx in the desert, it can take a long time for marks to reduce their beauty. Or it may seem an improbable comet, which strikes a gleam in the darkness of longing, for a few days later disappear.
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No encalço de encontrar o que não se espera, me vejo defronte a um espelho. Poderia dizer que ele é ocasional, percebido por casualidade dentro do caminhar fragmentado dentro da minha casa. Neste ir e vir, eu apareci diante de mim: uma figura cansada, de olhos semifechados que parecem mostrar uma sonolência existencial, ou solidão, para quem não se apega a pretensas adjetivações. Sim! Este transe de sempre conversar comigo, ou com minha existência, com palavras que somente eu ouço, mesmo as ditas, faz de mim uma companhia para se sensibilizar com aqueles presságios que formam os pensamentos. Como aquelas ideias que poderiam se enterrar no ostracismo, ou permanecerem baldias na aridez dos desejos de quem já os teve, e que agora apenas guarda as memórias dos dias mais tumultuados, repletos de experiências e esperanças.
Então, para prender tudo que flutua pela sala, ponho-me a escrever. E escrever é como se libertar daquelas reflexões que vivem rondando a percepção. Se forem retidas apenas pela semântica interna do coração, se comportam como aves na gaiola e apenas quem está perto consegue ouvir os cantos, ou grunhidos. Somente eu estou perto e não vou apelar para uma falsa pretensão de dizer que, o que carrego comigo, leva anos de meditações e algumas convicções. Também não vou dizer que a certeza se hospeda no mais profundo e obscuro do meu íntimo. Apenas vou compactuar que existe alguém ali, talvez uma consciência, ou o etéreo eternizado por uma suposta perenidade de palavras. Nada é infindável: nem o tempo, nem os sonhos. Somos espalhados por uma janela da realidade, mas não seguimos avante porque nosso horizonte não passa de algumas décadas. A continuidade pode ser um devaneio ignóbil ou uma apreensão onírica e irreal. O que eu disser aqui vai contemplar a efemeridade do amanhã, ou da semana que vem, e nada mais. Em todas as filosofias, vãs ou não, o que se propõe não passa de um prolongamento do querer, de um sobrestamento de existência nas vagas dos textos. Posso te cativar, posso te seduzir, posso te amar, mas no final das contas serei esquecido e o pó, ao qual me tornarei, somente vai empoeirar tua lembrança. Entretanto, não há desalento nos dizeres, apenas temporalidade. Não há melancolia nos desejos, apenas realidade. A indecifrável vida vai continuar em outrem, vai delinear a vontade em outras páginas, em outros idiomas e em outras sensibilidades. O que está escrito aqui não vai permanecer, fugidio que é da mente, porém podem ressurgir e novamente morrer. Como uma esfinge no deserto, pode levar muito tempo para que as marcas reduzam sua beleza. Ou pode parecer um cometa improvável, que risca um brilho na escuridão da saudade, para poucos dias depois desaparecer.