sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

O Querer

Mater Triumphalis - Annie Swynnerton - Musée d'Orsay

Quero voar pelas distâncias que não percorri. Soltar-me ao querer dos ventos, velejar pelos ares de forma intocável e intrépida. Serei alçado da prostração para percorrer a lonjura colocada no teu corpo, na tua pele suave e tépida, pela qual rocei meu desejo naqueles idos que simplesmente se foram sem nenhum aceno. Num dia estavas emoldurada na minha vida. Noutro deixaste só um pressentimento nos vestígios que persistiam no quarto: a roupa arrancada às pressas, um batom gasto, um falso brilhante que se depositou no tapete. Num dia estavas linda com aquela brisa a bailar seus longos e negros cabelos e esta é a imagem que persiste nos meus sonhos incertos de sonolência. Noutro dia estavas somente numa miragem que desenhava minha saudade pelos momentos de viver. Mas qualquer entrementes te busca e ignora a delusão. A tua realidade está impregnada em mim nas lembranças obstinadas, nas vozes que sempre ouço, no toque que sempre sinto e que ignora teu aparte.

Quero voar nos furacões que turbilhonaram as paixões insanas e eternas, recíprocas ou não. Quero redemoinhar em ti na ausência das horas, no tempo extirpado do cotidiano para um amor eternal, carnal e infernal. Toda a sabedoria é descrença diante de ti, todo conhecimento é inútil e todo querer é irrelevante ao te querer e ao te conhecer. Porque não há nada mais essencial do que o exercício de te amar, que te torna única, absoluta e linda.

Quero voar nas brisas que trazem a calmaria da tua presença e fazem tuas mechas dançarem com a graciosidade da tua silhueta. Sinto falta de me deitar meu rosto na tua pelve e absorver teu aroma. Teu corpo é um refúgio licencioso e cálido, que entorpece meus sentidos pelo desmerecimento de todo o mais. Tua voz consegue me embalar e quebrantar, além de afugentar o irrisório que insiste pelos caminhos da vida. Tua voz resgata-me do chão para as dimensões infindas dos céus, sem os limites da minha presunção e repletos de horizontes.

Quero asas para encontrar meu anjo diabólico que voou para o longínquo. Quero arrancar estas correntes que atracam meus desejos no pó do chão. Quero flutuar contigo para além da vida, para além da morte, na eternidade de nós dois.

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Teu Sorriso

Rosas e Anêmonas - Vincent Van Gogh (Museu D'Orsay - Paris)

Há o que paira na percepção como um quadro de Van Gogh. Desperta a sensibilidade com as pinceladas de emoção e rebuliça o íntimo com alusões não compreendidas da matéria arte. É claro que há uma significação dentro da alma e o desenho contorna sentimentos não tão precisos no tempo, nem tão claros o suficiente para se aquiescer. A tela é um espelho desfocado de um desejo incontinente preso no desconceito do cotidiano. Derrama umas poucas lágrimas sobre um rosto incrédulo dentro da insciência do querer e se vai; e sempre se esvai pelos afazeres insistentes e inevitáveis. Sinto-me incapaz de aludir o que me comove dentro da miríade de tons, do relevo quase imperceptível da tinta, como ondas e brumas num oceano misterioso e infinito. Apenas tenho aquela vazante que leva minha compreensão para a ignorância do amor, se é que se pode atribuir um corpo a ti, querida misteriosa que se perde na minha procura. Nos matizes, sou apenas uma sombra ou uma sobra encantoada na vereda que limita meus destinos. Eu não tenho as cores que me revelam; apenas um obscuro que se clareia quando minha retina passa pelas pinacotecas picotadas nos imensos dias que me testemunham.

Porém, há o que paira na emoção como um relâmpago ofuscante; e percorre a pele com a alucinação de toques ávidos. Inverte aquele ser sombrio dentro do avesso dos seus sentidos: torna-o melhor. Pincela de realidade o que apenas se deseja e atravessa com seus horizontes amplos as serras, florestas e quaisquer obstáculos que se avizinhem. Os passos caminham para uma imagem que lentamente se veste de um corpo nu; para uma frieza que vagarosamente é aquecida pelo abraço; para um quadro que te olha profundamente. Não há palavras ditas dentro dos sussurros porque a gramática está aquém do significado. E os relances dos olhares revelam em segundos, todas as páginas da vida e seus ditos inauditos. Talvez esquecidos dentro do conforto desta maturidade, ou talvez irreais pelos fatos costumeiros.  Teu sorriso vem, ora sem o quem numa imagem que me feitiça, ora com o quem na tez que me fascina. Sou então atraído para o abismo da paixão, mas no teu doce beijo alço voo para as amplidões da eternidade contida nos poucos, sempre poucos, momentos quando estou ao teu lado. Os pinceis nas tuas mãos impregnam de sentido as lágrimas derramadas pelo Van Gogh, e me completam ao trazer os sonhos para os meus dias. Teu sorriso vem para os meus olhos inundados pela compreensão da tua existência dentro da minha, depois de anos perpetuados na descrença de uma presença em que eu não precisasse profanar as ininterruptas frases de amor. Teu sorriso agora está em mim, em nós e em tudo o que admiro e guardo na minha lembrança.

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Velhice

François-Auguste Biard - Magdalenefjorden - Museu do Louvre

Dentro deste quarto, décadas se concentram em torno de uma alma serena. Decerto há um vasto passado que ora pesa sobre estes ombros arqueados pela fadiga dos tempos pregressos, ilustrados em imagens talvez mais ilusórias do que factuais, porém postadas como reais naquela lembrança anciã. Embora vilipendiado pelos anos, seu olhar desenha na parede, nua de quadros, as encenações de uma vida absolutamente comum e trivial, apenas vivida. Marejado de saudades, os olhos pairam no empastelamento dos matizes e se lembram dos personagens sem as cores intensas, porque agora refletem que não há mais vigor nos braços e nos desejos, apenas vestígios parcos que se estendem no tempo como um autorretrato em preto e branco de si, prostrado em paisagens incertas daquele sonho vago que não se realizou. Antes dos idos, ele estava na beira de uma caminhada para um destino que agora chegou encarcerado num quarto ausente de pessoas, num coração apagado de paixões e numa morte enterrada logo mais no futuro.  O que ele poderia dizer para si? A mudez escarnece sua insignificância, o gosto amargo das frases devoradas pela falta de paixão. Há um sorriso leve, quase incerto, que pouco adorna a sisudez da expressão. Há um sorriso vindo daquele querer que maltratou os momentos oportunos com o egoísmo. De nada vale esta parede e estas memórias labirintiformes que não encontraram a saída para a felicidade e agora agonizam um já é tarde. 

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Sonhos Ingênuos

Museu do Louvre

Já houve um tempo de sonhos ingênuos, que coloriram a graça da vida por anos. Quando se é jovem, tudo é infindo e crendeiro. Tudo se fia na espera de um súbito gracioso que deveria se alinhar no destino. Entretanto, a marcha de acontecimentos é lenta e os passos em círculos, que se caminha pelos anos, cavam nossas trincheiras. Decerto, alguém poderia enxergar meu coração muito além do vazio da minha personalidade. Um alguém também perdido pela insistência penserosa de dias mais amenos, onde se poderia encontrar um refúgio para a esperança... Escapou-me um riso ao perceber o verbo esperar na esperança. Deveria existir uma palavra como “atenuança”, para reforçar o sentido de que se quer apenas atenuar a desesperança, talvez com uma dose de verve engolfada com urgência e pressa em frente à beleza de uma emoção, quiçá única dentro de uma vida. O que se ocorre é a contínua perda de momentos, despejados como óbitos despercebidos em passados esquecíveis da contemplação. Quantas vezes apreciamos um pôr do sol? Em quantas vezes havia alguém ao lado, calado de palavras e loquaz de paixões? Quantas vezes conversamos com a alma de alguém? Quantas vezes demos um abraço num desconhecido motivado apenas por um dizer ou fazer? Se a conta ultrapassa dos dedos da tua mão, és uma pessoa afortunada e a sua vida pode ser resumida e ampliada pelos fervores. Talvez a tenha deixado como herança para uma humanidade diligente e rara, o que planta e replanta sonhos ingênuos, mas agora factíveis.

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

About Anchors and Wings - Sobre Âncoras e Asas

By Fluous - Own work, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=25192888

There must be a time, even if pressed by the circumstances of the duties, where we will coexist with our shadow. That dark node that covers and suppresses desires for the blindness of who we are and want. This time lurks and insinuates certain darkness inside the soul. Obviously the existence of blackness characterizes some of the partitions of our personality and can overwhelm the viewpoint of self-observation, if there is weakness in intuition about who we are within our midst. Gregarious beings can only be understood by convoy, but absolute freedom is out of the herd. However, while the corral has its disadvantages, it limits our psychic efforts and provides some existential comfort, even if filled with dark stains. Beyond the fences is the impassive desert bordered on the unknown, this insubstantial and supposed backwater that extends beyond sight. Of course there are people born to move forward, as there are those born to stop. Both have their virtues and their vices. Both live between the intrinsic dissatisfaction of life and the momentary satisfaction of vague achievements. What sets them apart are the will-driven steps: one walks in circles, another walks along the edge of the abyss. One sleeps and dreams, other dreams sleepless. One has anchor, another has wings.

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Deverá haver um tempo, mesmo que premido pelas circunstâncias dos afazeres, onde coexistiremos com a nossa sombra. Aquele nódulo escuro que cobre e suprime desejos pela cegueira de quem somos e queremos. Este tempo espreita e insinua certa escuridão da alma. Obviamente a existência do negrume caracteriza algumas das partições da nossa personalidade e pode avassalar a ótica da observação própria se houver fragilidade na intuição acerca de quem somos dentro do nosso meio. Seres gregários só se entendem em comboio, porém, a liberdade absoluta está fora do rebanho. Entretanto, ao mesmo tempo em que o alfeire tem suas desvantagens, delimita nossos esforços psíquicos e proporciona certo conforto existencial, mesmo que recheado pelas nódoas escuras. Além das cercas está o impassível deserto fronteiriço do desconhecido, este insubstancial e suposto remanso que se estende além da vista. É claro que há pessoas que nasceram para avançar, como há aquelas que nasceram para parar. Ambas possuem suas virtudes e seus vícios. Ambas vivem entre a insatisfação intrínseca da vida e a satisfação momentânea de conquistas vagas. O que as diferencia são os passos dirigidos pela vontade: uma anda em círculos, outra caminha pela borda do abismo. Uma dorme e sonha, outra sonha insone. Uma tem âncora, outra tem asas. 

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Contradictions - Contradições



My life is old and this isolates my heart on an island, wrecked by circumstances or by path choices. My body is already torn by time: a pile of debris that moves ever slower, shrouded in the tomb of its very existence. Drowning in the shallow waters of the ephemeral, I try to emerge from unfulfilled dreams; they just passed through my nights as if ignoring me by indifference. Like that woman who lay in my bed and gave what she could give of her body and soul. She stayed no longer than necessary and soon left, even when she was still in bed naked, without her clothes and time. Everything in me has ceased in being, even this breathless lyricism that consumes the lines without capturing the woman that gone, beyond the one that wants to be in the future. The paths are on the obliquity of wanting, obstructed by reason or stolen in the shadows of emotion. The fact is that the horizon still persists in front of the distance and the legs stagger: who approaching is the sunset. I can no longer eclipse my contradictions with the personality because contestation plagues me, strikes me with its sharp sword, erode me with its acid speech, and leaves me on the curb of any street that passes through me.

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Minha vida está velha e isto isola meu coração numa ilha, náufrago das circunstâncias ou das escolhas dos caminhos. Já tenho o corpo carcomido pelo tempo: um monte de escombros que se move cada vez mais lento, envolto pela tumba da sua própria existência. Afogado pelas águas rasas do efêmero, eu tento emergir dos sonhos que não foram realizados, apenas passaram pelas minhas noites como quem me ignora pela indiferença. Como aquela mulher que se deitou na minha cama e deu o que podia dar do seu corpo e da sua alma. Não ficou mais do que o necessário e não tardou em partir, mesmo que ainda ficasse na cama desnuda pelas roupas e pelo tempo. Tudo em mim deixou de ser, mesmo este lirismo ofegante que consome as linhas sem capturar aquela que se foi, além daquela que quer estar no porvir. Os caminhos estão no soslaio do querer, obstruídos pela razão ou furtados nas sombras da emoção. O fato é que o horizonte ainda persiste diante do longe e as pernas cambaleiam: quem se aproxima é o ocaso. Não posso mais eclipsar minhas contradições com a personalidade porque a contestação me assola, fere-me com sua espada aguda, corrói-me com seu discurso ácido e abandona-me no meio-fio de qualquer rua que passe por mim.

terça-feira, 4 de junho de 2019

Beauty - Beleza

Imagem gerada pelo GPT-4o

What is beauty? I could relate beauty with aesthetics, but I would be limited by the simple lack of contemplation. Beauty may be the infinite gaze that explores the immensity with the wings of the heart. It doesn't stick to ridicule, to the uncontested censorship and to the looking of others. It investigates and advances in a kind of liking deified by soul. Beauty is like crying tears that testified some deep admiration; it is to water the ungodly being with liberating weeping, as mourners in front of the evil that is gone. Beauty is dreaming of skies and navigating the clouds that take us to the bodies that harmonize us and complete us. It is having the dimensions of height and suppressing the distances that bring your hand to my face. Beauty is to love! Even in the face of a vast desert, it is to feel your mirage in me, forever and ever, in that eternity summed up in a kiss.

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O que é a beleza? Poderia relacionar o belo com a estética, mas eu estaria limitado pela simples falta da contemplação. Beleza talvez seja o olhar infinito, que explora as imensidões com as asas do coração. Não se atém aos ridículos, a inconteste censura e aos olhares de outrem. Investiga e avança numa espécie de querença deificada pela alma. Beleza é chorar uma lágrima que testemunha a profunda admiração; é regar o infecundo ser pelo pranto libertador, como carpideiras do mal que se foi. Beleza é sonhar com céus e navegar nas nuvens que nos leva para junto dos corpos que nos harmonizam, nos completam. É ter as dimensões da altura e suprimir as distâncias que trazem tua mão para o meu rosto. Beleza é amar! Mesmo diante de um vasto deserto, é sentir a tua miragem em mim, diante de todo o sempre, naquela eternidade resumida num beijo.

domingo, 2 de junho de 2019

Behind Footlights - Atrás da Ribalta

Imagem gerada pelo Midjourney


For a long time the isolation of a life has led me to consider myself moving within an unlimited stage, as the protagonist of a tedious plot that does not hold your attention. I see you beyond the dazzling spotlight to get out of this veil that blurs our fates and stumbles our steps toward the meeting. You are alone in listening a song that touches your soul and imposes a rhythmical cadence, unlike the sequence of fervors and dismays that erode our minds. We are alone in the songs that stop the time and repress our prostrations. When your face appeared in front of me, I sang an eternity and heard the accompaniment of angels on Chopin's piano. I touched with my eyes to you in the absolute absence of sounds and tones, but in the rhythm of wanting you. But you weren't onstage to set me free by trapping me in you and throwing away the keys of my heart.

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Por muito tempo o isolamento de uma vida levou-me a considerar que me movo dentro de um palco ilimitado, como um protagonista de um enredo tedioso que não prende a atenção de ti. Eu não te vejo além da ofuscante ribalta para sairmos deste véu que turva nossos destinos e tropeça nossos passos na direção do encontro. Estás sozinha ao ouvir uma canção que te toca a alma e impõe um ritmo cadenciado, diferente da sequência de arroubos e desânimos que corroem nossas mentes. Estamos sozinhos nas músicas que freiam o tempo e reprimem nossas prostrações. Quando o teu rosto surgiu na minha frente, eu cantei uma eternidade e ouvi o acompanhamento dos anjos no piano de Chopin. Eu tocava com os meus olhos para ti, na ausência absoluta de sons e tons no ritmo de querer-te. Mas não estavas no palco para me libertar ao me prender em ti e jogar fora as chaves do meu coração.

quinta-feira, 30 de maio de 2019

Ditty - Cantilena

Imagem gerada pelo GPT-4o


The night lies down and copulates with me, like a hallucination made more of shadows than of touches. Its black arms wrap around my body clogged with years, blind my vision and make odorless the memories of kisses. I no longer sleep and I suck like a vampire the hours that pass at dawn with the longing of your neck, that fragrance of expired perfume and sweat that awoke my soul. The darkness testifies to my indolence and my sudden movements that seek you in the deep silence of the abyss that separate me from you. There are years between our bodies, but there is also a figure that refuses to go  from this delirium that is your absence. She wants to steal your form, wear your lingerie, but you can not hug me. The love can hardly be heard in the deafness of my days. Your heat is slowly dissapate from me, to leave me this unbearable cold, this impenetrable murk and this unfinished dream.

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A noite se deita e copula comigo, como uma alucinação feita mais de sombras do que de toques. Seus braços negros envolvem o meu corpo entupido de anos, cegam minha visão e tornam inodoras as lembranças de beijos. Não mais durmo e vampirizo as horas que passam pela madrugada com a saudade da tua nuca, daquela fragrância de perfume vencido e suor que acordava minha alma. As trevas testemunham minha indolência, meus movimentos bruscos que te procuram no profundo silêncio dos abismos que me separam de ti. Há anos entre nossos corpos, mas há um vulto que se recusa a partir deste delírio que é tua ausência. Ela quer roubar a tua forma, vestir tua lingerie, mas não pode me abraçar. A cantilena de amor mal pode ser ouvida na surdez dos meus dias. Teu calor se esvai lentamente de mim, para deixar-me este frio insuportável, este breu impenetrável e este sonho inacabado.

terça-feira, 28 de maio de 2019

Traces of Soul - Vestígios de Alma

Imagem gerada pelo Midjourney


The vestiges of my soul should not be gathered by a sensitivity, still when distracted from intentions. They are pieces that should reassemble the dreams that a young man has been hallucinating for decades, that only scribbled facts and suggestions on destiny in the past. They create nothing but chance to find you, that they have not found yet. You, woman barefoot and almost naked, dance in my delirium of living. You does not allow me a touch, within your improbable existence and in your fragile body, made of lights and shadows in the paintbrush of my mind and of my desire. I follow you as a pilgrim around the divinity that is admitted to me, in this procession that we call time. I want you as a beggar of love, as a pariah of the passions, as a simple and ordinary man. I do not want his leftovers because I'm athirst for the whole, even in this body abandoned by youth and left by emotion.

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Os vestígios da minha alma não devem ser recolhidos por uma sensibilidade, ainda que distraída das intenções. São peças que deveriam remontar os sonhos que um jovem alucinou há décadas, porém apenas rabiscam fatos e sugestões no destino pelo passado. Nada criam a não ser o acaso de te encontrar que, porventura, não te achou. Você, mulher descalça e quase desnuda, dança no meu delírio de viver. Não me permite um toque, dentro da sua existência improvável e do teu corpo frágil, feito de luzes e sombras no pincel da minha mente e do meu desejo. Eu a sigo como um peregrino em torno da divindade que se admite, nessa procissão que chamam de tempo. Eu a quero como um mendigo de amor, como um pária das paixões, como um homem simples e comum. Eu não quero suas sobras porque sou sedento do todo, mesmo neste corpo abandonado pela juventude e largado pela emoção.

domingo, 26 de maio de 2019

Pale Afternoon - Tarde Pálida

Imagem gerada pelo Midjourney

At this moment, one afternoon advances across the horizon with its warm arms and its pale lights. Sadness occupies the moments, but without shedding whimpers. There are images that seem static as they penetrate my eyes: everything is stopped in people's countenances. There is not a tear to dry on the floor. Without a dream that justifies the trance, everything is drowsy in the minds. Without the emotions that bring your eyes and without the foolery to awaken your laughter by the unusual, my heart stops. My presence is far from you, farther away than I would like because your body is the refuge of my soul and your arms are my blanket in the cold days to come. I could quickly implode the distances with my legs, but where am I going? Who are you? As the answer eludes me, the afternoon continues to pass at its stoppage.

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Neste momento, uma tarde avança pelo horizonte com seus braços mornos e suas luzes pálidas. A tristeza ocupa os momentos, mas sem derramar lamúrias. Há imagens que parecem estáticas ao penetrar pelos meus olhos: tudo está parado no semblante das pessoas. Não há uma lágrima que seque no chão. Sem um sonho que justifique o transe, tudo está sonolento nas mentes. Sem as emoções que trazem teus olhos e sem as momices para despertar o teu riso pelo inusitado, meu coração para. Minha presença está longe de ti, mais distante do que gostaria porque teu corpo é o refúgio da minha alma e os teus braços são meu cobertor nos dias frios porvir. Poderia implodir os longes com minhas pernas céleres, mas para onde eu vou? Quem é você? Enquanto a resposta me foge, a tarde continuar a passar em sua paragem.

sexta-feira, 24 de maio de 2019

The Leaves and The Wind - As Folhas e o Vento


Franco Leoni, Public domain, via Wikimedia Commons

The leaves are seduced by the wind and they disappear in the blowing until the firmament, carried eternally in the breezes and typhoons of a jealous Zephyr. They go and spread their green under the blue, but I stay in the gray of this city, within the hues allowed by the walled horizon. When there is calm, the leaves lie down and bear, slowly consumed while I am absorbed by hope: at night I lie down and I try to survive to the nightmares. When there are storms, the leaves ignore and only fly like migratory birds. They devour the distances and the cravings, in an eternal ballet without destiny, but with roads that expel paths. Life can be a wind and I a leaf. Sometimes I'm taken to your side, sometimes to the far side. Sometimes I am my prison, sometimes my bird, but always in a quixotic attempt to tame the wind.

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As folhas se seduzem pelo vento e somem no seu sopro para o firmamento, levadas pela eternidade nas brisas e nos tufões de um ciumado Zéfiro . Elas vão e espalham seu verde sob o azul, eu fico no cinza desta cidade, dentro dos matizes permitidos pelo horizonte muralhado. Quando há calmaria, as folhas se deitam e padecem; lentamente consumidas como sou absorvido pela esperança: à noite deito e tento sobreviver aos pesadelos. Quando há tempestades, as folhas ignoram e apenas voam como aves migratórias. Consumem as distâncias e as ânsias, num bailado eterno sem destino, mas com estradas que expelem caminhos. A vida pode ser um vento e eu uma folha. Às vezes sou levado para o teu lado, às vezes para o longínquo. Às vezes sou meu cárcere, às vezes minha ave, mas sempre numa quixotesca tentativa de domar as ventanias.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Happy Birthday! - Feliz Aniversário!

Imagem gerada pelo Midjourney

Our lives are filled with days, which constantly pass through our emotions and frustrations. There are moments that we keep with caress in our memory, and there are moments that we pour into the sewer of oblivion. We are what we have built in our past, but not only with our arms. On this trail hand in hand with time, we meet many people. Some are gone, leaving nothing significant in our hearts to make their divergent traces so indelible. We remember others, perhaps because of their teachings and behavior. For some reason, the course of our journeys was altered by the wisdom or empathy of these few contacts. However, there are those who tattoo on our remembrance and you are one of them. Your face, your smile, your voice and your "you" always appear as a beautiful mirage in front of me, anywhere, anytime. Especially on this day, that puts another year in your count and one more affection in the memory of a kiss in my longing. The oneness of your being is one of the reasons that life has given me happiness.

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Nossas vidas estão repletas de dias, que passam constantemente através das nossas emoções e frustrações. Há momentos que guardamos com carinho na nossa lembrança, e há momentos que despejamos no esgoto do esquecimento. Somos o que construímos no nosso passado, mas não somente  com os nossos braços. Neste caminho de mãos dadas com o tempo, conhecemos muitas pessoas. Algumas já se foram, sem deixar nada significativo nos nossos corações para que seus rastros divergentes sejam tão indeléveis. Lembramo-nos de outras, talvez pelos seus ensinamentos e comportamentos. Por algum motivo, o percurso das nossas jornadas foi alterado pela sabedoria ou empatia destes poucos contatos. Porém, há aquelas que se tatuam nas nossas saudades e você é uma delas. Seu rosto, seu sorriso, sua voz e o seu você sempre aparecem como uma bela miragem diante de mim, em qualquer lugar, em qualquer momento. Especialmente neste dia, que põe mais um ano na tua contagem e mais um carinho da lembrança de um beijo na minha saudade. A unicidade do teu ser é uma das razões pelas quais a vida me presenteou com a felicidade.

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Time Traveler - Viajante do Tempo

Imagem gerada pelo GPT-4o

What is perceived in the rhytm of the days followed by nights, is more than a Saharan aridity. Between the dawn and the afterglow, there is a stuffing of nefarious events that makes this cake insipid and somewhat unhealthy. My soul slowly spends itself in the frictions of daily life as if it were of substance. I leave my tracks for hours, cadenced by the continuous and eternal ticking, more immutable than my declining dreams, scattered among the seconds that dethrone them from being the first of my reality. Certainly I am a time traveler, driven by the intrinsic uncertainties of life. Certainly I am lonely, through a meager knowledge accumulated in a fragmentary and constant way. I'm certainly happy because I have no other choice. Of all things, what can be extracted is that the essence of human being is in the walking, not in destiny.

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O que se percebe na cadência dos dias seguidos de noites, é uma aridez mais que saariana. Entre o alvorecer e o arrebol, há um recheio de torpes que torna este bolo insosso e um tanto insalubre. Minha alma lentamente se gasta nos atritos do cotidiano como se de substância fosse. Deixo meus rastros pelas horas, cadenciados pelo tiquetaquear contínuo e eterno, mais imutável que meus sonhos declinantes, espalhados por entre os segundos que os destronam de serem os primeiros da minha realidade. Decerto sou um viajante do tempo, levado pelas incertezas intrínsecas da vida. Decerto estou solitário, mediante um parco conhecimento acumulado de forma fragmentária e constante. Decerto sou feliz porque não me resta outra opção. Disso tudo, o que pode ser extraído é que a essência do ser está no caminhar, não no destino.

segunda-feira, 20 de maio de 2019

Sensitivity - Sensibilidade

Imagem gerada pelo GPT-4o


In these temporal interlacings where significance is attributed by the sensitivity of the encounter, in the instant an unknown woman tasted the white, perhaps a Chardonnay, the mild temperature led me to a reserved Pinot Noir. After a mentally stormy week, I lacked the softness and impetuosity. Confused among themselves, in the fruity hue of rebellious dreams that still swarmed in my attention, there would be a day after that night and this day is here, in the chant of that great-kiskadee that passed close to my window and in the song that still insists rhythms in my soul. I will travel with me through strange lands, through the inhospitable planets of my imagination and by the paths that will take me to places where my body will rest. My mind will go further, where fate will have no meaning, except for identifying that I have come to expect another dawn.

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Nestes entrelaçamentos temporais onde a significância é atribuída pela sensibilidade do encontro, no mesmo instante em que uma mulher desconhecida saboreava o branco, talvez um Chardonnay, a temperatura amena levava-me a um Pinot Noir de reserva. Depois de uma semana mentalmente tempestuosa, carecia-me a suavidade e a impetuosidade. Conflituosas entre si, no matiz frutado de sonhos rebeldes que ainda pululavam na minha atenção. Haveria um dia após aquela noite e este dia está aqui, no canto daquele bem-te-vi que passou perto da minha janela e na canção que ainda insiste ritmos na minha alma. Viajarei comigo por terras estranhas, pelos planetas inóspitos da minha imaginação e pelas trilhas que me levarão a lugares onde meu corpo repousará. Minha mente irá mais longe, onde o destino não terá sentido, a não ser por identificar que cheguei para esperar outra aurora.

sábado, 18 de maio de 2019

Come to Me - Venha para Mim

Imagem gerada pelo GPT-4o

For those who have come here, in the mishaps of time, the days seem to pass like avalanche by the months. Sometimes they bury dreams, sometimes they bring you as an indefinable form in the mist. The modern world is full of fogs and cyber haze that distort your image, but your thoughts are here, inside me. Days may flow through the calendar, but your eyes are permanent. The days may even end for me, but your smile will cheer me up beyond what I can guess. There is not a day when I do not feel the feminine lack that softens my insane eagerness, lost in the confusion of the city. There is not a day when I forget you and there is not a day when I do not want to wish you my simple, artless and perennial "come to me".

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Para quem chegou até aqui, nos percalços do tempo, os dias parecem passar como avalanche pelos meses. Às vezes eles soterram os sonhos, às vezes eles te trazem como uma indefinível forma na bruma. O mundo moderno é cheio de névoas e neblinas cibernéticas que distorcem a tua imagem, mas teus pensamentos estão aqui, dentro de mim. Os dias podem escorrer pelo calendário, mas teus olhos são permanentes. Os dias podem até se findar por mim, mas teu sorriso me alegrará até além do que posso supor. Não há um dia em que não sinta a falta feminina que amolece minha ânsia insana, perdida na confusão da cidade. Não há um dia em que eu me esqueça de ti e não há um dia em que eu não queira te desejar meu simples, singelo e perene “venha para mim”.

quinta-feira, 16 de maio de 2019

One Word - Uma Palavra

Imagem gerada pelo GPT-4o


I am in the midst of a lull of schizophrenia, that is living without passion. There is an abyss between the present time and that future that I only glimpse, eclipsed by an eternal and warm quotidian. My body was aborted by my story and my mind avenges with the gall the inseparable silence of my voice. I do not listen to myself and, naked of myself, I begin to write with some images in the mind: the dance and your face. But I never know how it will end. The words seem to spring from a kind of mist. They appear and lie down in the writing. They look at me and seduce me. For me, a word is like a naked woman in bed. It must be deciphered by her shadows, not by who you think she is. The copula with semantics should lead to the ecstasy almost corporeal, or animal, of tearing the skin and sucking out fluids urgently, but without haste. If there will be a birth or expulsion, only the reader will say.

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Estou dentro de uma estiagem da esquizofrenia que é o viver sem paixão. Há um abismo entre o tempo presente e aquele futuro que apenas vislumbro, eclipsado por um cotidiano eterno e morno. Meu corpo foi abortado pela minha história e a minha mente vinga com fel o calar inseparável da minha voz. Não me escuto e, despido de mim, começo a escrever com algumas imagens na mente: a dança e o teu rosto. Porém, eu nunca sei como vai terminar. As palavras parecem brotar de numa espécie de névoa. Aparecem e se deitam na escrita. Olham para mim e me seduzem. Para mim, uma palavra é como uma mulher nua na cama. Deve ser decifrada pelas suas sombras, não por quem se pensa que é. A cópula com a semântica deve levar ao êxtase quase corpóreo, ou animal, de rasgar a pele e sorver os líquidos com urgência, mas sem pressa. Se haverá um nascimento ou uma expulsão, apenas o leitor dirá.

terça-feira, 14 de maio de 2019

Noises Plucked from the City - Ruídos Arrancados da Cidade

Imagem gerada pelo GPT-4o


Small noises plucked from the city envelop this room hung on top of a building. Cars enter through the window, and the their horns do not frighten in the distance. But I am alone and noised, both outside and inside me: everything leads me to think of you. I subtract the distance wanting you next to me, to dance and to twist with my body, even with the impossible music of the traffic. Everything turns to rhyme and a dream of perhaps rhythms my desires. I could tell you words that  would enchant, but the body speaks more, within the nakedness of your soul and the nature of your woman. I do not shut up my gestures and I do not suppress my touches that may never run through your skin. They exist in themselves, hidden within the mildness of my appearance and bound by the eternal swirls of my heart. What emerges now, is nothing more than a little phrase that says: I want to dance with you!

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Pequenos ruídos arrancados da cidade envolvem esta sala pendurada no alto de um edifício. Carros entram pela janela e, de longe, as buzinas não assustam. Mas estou só e barulhado, por fora e por dentro de mim: tudo me leva a pensar em ti. Subtraio a distância querendo-te ao meu lado, para dançar e se entrançar com meu corpo, mesmo com a impossível música do trânsito. Tudo vira rima e um sonho de talvez ritma os meus desejos. Poderia te dizer palavras que encantariam, mas o corpo fala mais, dentro da nudez da tua alma e da natureza da tua mulher. Não calo os meus gestos e não suprimo os meus toques que talvez nunca percorram a tua pele. Eles existem em si, escondidos dentro da brandura da minha aparência e presos pelos turbilhões eternos do meu coração. O que emerge agora, nada mais é do que uma pequena frase que diz: Eu quero bailar contigo!

domingo, 12 de maio de 2019

Fragments of Life - Fragmentos de Vida

Imagem gerada pelo GPT-4o

Some fragments of life are grafted into my quotidian in a painful way. They rebel against this eternal death, clouded by the uncertainty of existence that I can call only of persistence. Madness rescues me from the limbo of reason, which gives me more uncertainty than conviction. It calls me by name and also gives me a tortuous and isolated path, within a less fragmented world. Thoughts are nothing more than hallucinations that produce lysergic and profoundly false facts because they will not find that intuition that is hidden in the bowels of what you are. It is illusory to live on the agenda of others, as a puppet of indecipherable intentions for some fragile soul. There is no freedom because I am prey to myself as a citizen. So I am dead, even though I am not. I am absorbed, entangled in the darkness of macabre solitude, without real attention or care. I am only a body that occupies the spaces that are not due to it, within the leftovers that are allowed. I am only a body tired by the folds of time, troubled by its own presence and by the immense ignorance that ennobles me with the glitter of others. I did nothing but pass ... through life, or this is called insomnia. Life itself is in unreal dreams and therefore it is as fanciful as them.

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Alguns fragmentos de vida são enxertados no meu cotidiano, de uma forma sofrida. Rebelam-se contra esta morte eterna, anuviada pela incerteza do existir que posso chamar apenas de persistir. A loucura resgata-me do limbo da razão, que me dá mais incertezas do que convicção. Chama-me pelo nome e também me dá um caminho tortuoso e isolado, dentro de um mundo menos fragmentado. Pensamentos não são mais do que alucinações que produzem fatos lisérgicos e profundamente falsos porque não vão achar aquela intuição que se ocultas nas entranhas do que se é. Ilusório é viver sobre a pauta alheia, como marionete de intenções indecifráveis pela alma frágil. Não há liberdade porque sou presa de mim, enquanto cidadão. Por isso, estou morto, mesmo não estando. Estou absorto, encravado na escuridão de uma solidão macabra, sem atenções ou cuidados autênticos. Sou apenas um corpo que ocupa os espaços que não lhe é devido, dentro das sobras que se permite. Sou apenas um corpo cansado pelas dobras do tempo, incomodado pela própria presença e pela imensa ignorância que me enverniza com brilhos alheios. Nada fiz, senão passar... pela vida, ou isto que se chama de insônia. A vida mesmo está nos sonhos irreais e, portanto, é tão fantasiosa quanto eles.

sábado, 11 de maio de 2019

São Paulo II

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I'm alone in São Paulo. Surrounded by millions of souls, but lonely. I see a smile on the face of a beautiful woman; a smile that shone in my perception but does not change my perspective. The soft face of a woman is just an oasis unattainable by the thirst for love. I do not know where you are and my ignorance puts your body thousands of miles away. Your warmth, the moisture of your lips, the fragrance of your skin. I feel them for the aseptic memory and without ecstasies. They torture me in the sleepless nights that embrace the cold of my nook. The desert that is among us consumes me and malnutrify my mind in silent and corrosive murmurings, which carry useless entreaties, which draw impossible dreams and that die in me, by me.

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Estou só nesta São Paulo. Rodeado de milhões de almas, mas só. Vejo um sorriso a enfeitar o rosto de uma bela mulher; um sorriso que luzi na minha percepção e não chega a mudar minha perspectiva. O rosto suave de uma mulher é apenas um oásis inatingível pela sede do amor. Não sei onde você está e a minha ignorância coloca seu corpo a milhares de quilômetros. Seu calor, a umidade dos teus lábios, a fragrância da tua pele. Sinto-os pela lembrança asséptica e sem êxtases. Tortura-me nas noites insones que abraçam o frio do meu recanto. O deserto que está entre nós me consome, desnutri minha mente em murmúrios silenciosos e corrosivos, que levam súplicas inúteis, que desenham sonhos impossíveis e que morrem em mim, por mim.

quarta-feira, 1 de maio de 2019

Insomnia - Insônia

Imagem gerada pelo GPT-4o

Some fragments of life are grafted into my daily life in a painful way. They rebel against this eternal death, clouded by the uncertainty of existence that I can call only persistence. Madness rescues me from the limbo of reason, which gives me more uncertainty than conviction. It calls me by name and also gives me a tortuous and isolated path, within a less fragmented world. Thoughts are nothing more than hallucinations that produce lysergic and profoundly false facts because they will not find that intuition that is hidden in the bowels of what you are. The Illusion is to live on the guidelines of others, as a puppet of indecipherable intentions for the fragile soul. There is no freedom because I am prey to myself, while I'm just a citizen. So I'm dead, even though I'm not. I am absorbed, entangled in the darkness of macabre solitude, without real attention or care. I am only a body that occupies the spaces that are not due to me, within the leftovers that are allowed. I am only a body tired by the folds of time, troubled by my own presence and by the immense ignorance that ennobles me with the glitter of others. I did nothing but pass ... through life, or this is called insomnia. Life itself is in unreal dreams and, therefore, it is as fanciful as them.

Alguns fragmentos de vida são enxertados no meu cotidiano, de uma forma sofrida. Rebelam-se contra esta morte eterna, anuviada pela incerteza do existir que posso chamar apenas de persistência. A loucura resgata-me do limbo da razão, que me dá mais incertezas do que convicção. Chama-me pelo nome e também me dá um caminho tortuoso e isolado, dentro de um mundo menos fragmentado. Pensamentos não são mais do que alucinações que produzem fatos lisérgicos e profundamente falsos porque não vão achar aquela intuição que se ocultas nas entranhas do que se é. Ilusório é viver sobre a pauta alheia, como marionete de intenções indecifráveis pela alma frágil. Não há liberdade porque sou presa de mim, enquanto cidadão. Por isso, estou morto, mesmo não estando. Estou absorto, encravado na escuridão de uma solidão macabra, sem atenções ou cuidados autênticos. Sou apenas um corpo que ocupa os espaços que não lhe é devido, dentro das sobras que se permite. Sou apenas um corpo cansado pelas dobras do tempo, incomodado pela própria presença e pela imensa ignorância que me enverniza com brilhos alheios. Nada fiz, senão passar... pela vida, ou isto que se chama de insônia. A vida mesmo está nos sonhos irreais e, portanto, é tão fantasiosa quanto eles.

terça-feira, 30 de abril de 2019

São Paulo

Imagem gerada pelo GPT-4o

I'm alone in São Paulo, surrounded by millions of souls, but alone. I see a smile on the face of a beautiful woman; a smile that shone in my perception and does not change my perspective. The soft face of a woman is just an oasis unattainable by the thirst for love. I do not know where you are and my ignorance puts your body thousands of miles away. Your warmth, the moisture of your lips, the fragrance of your skin! I feel them for the aseptic memory and without ecstasies. Torture me in the sleepless nights that embrace the cold of my nook. The desert that is among us consumes me, I malnutrify my mind in silent and corrosive murmurings, which carry useless entreaties, which draw impossible dreams and that die in me, by me.

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Estou só nesta São Paulo, rodeado de milhões de almas, mas só. Vejo um sorriso a enfeitar o rosto de uma bela mulher; um sorriso que luzi na minha percepção e não chega a mudar minha perspectiva. O rosto suave de uma mulher é apenas um oásis inatingível pela sede do amor. Não sei onde você está e a minha ignorância coloca seu corpo a milhares de quilômetros. Seu calor, a umidade dos teus lábios, a fragrância da tua pele. Sinto-os pela lembrança asséptica e sem êxtases. Tortura-me nas noites insones que abraçam o frio do meu recanto. O deserto que está entre nós me consome, desnutri minha mente em murmúrios silenciosos e corrosivos, que levam súplicas inúteis, que desenham sonhos impossíveis e que morrem em mim, por mim.

segunda-feira, 11 de março de 2019

#1: Invite to Dinner (Convite para Jantar)

Imagem gerada pelo GPT-4o

Think of anyone the world: whom would you invite to dinner? 

My speech was never intended to put me in a central position, such as to star in the words that were supposed to leave my mind. The abstraction of me, an individual who passes almost always unnoticed by the sceneries of existence, is fundamental to my understanding of the people around me. It is not exactly because I have the will to understand them in a more psychological context, but to get a glimpse of the impact of my own thoughts on the perception of others. What is implied here is that I have not the slightest attachment in talking to walls, especially those clothed in a certain human body. Another reason is that I do not consider my thinking as relevant within an environment outside my psyche, because what is built in solitude is perpetuated in the irrelevance of having subjects more appropriate to a universe of its own, difficult to penetrate, than to share of opinions. It is true that in spite of the years, convictions always prove to be as useless as the ephemeral existence of wise ignorance.

So why should I invite anyone? For a very simple reason: the silence hidden by words is terrifying, a monster that swallows the semantics of life to finally vomit contempt. Sometimes we have the impression that selfishness prevails in societies; which to a certain extent is true, despite not being an absolute statement. Understanding the individual needs of each person can be of great value in interpreting the mechanisms by which we move in groups, by the conjunctions of diverse affinities such as interests, sex, and sharing. There is always the exchange or what is received by what is given; a fact that is not necessarily pernicious, just educational. In addition to this stubborn behavior of people, there is a remote possibility of finding someone whose will is attuned to the absence of self. In other words, it will not carry for the coming days the absolute necessity of receiving something in return, only to give something of himself that is important to those who are close. I would not say that this person is someone who has everything, just that he does not need anything else than he has. I would not say that this person is fanciful, because he is inserted in communities that have already abdicated altruism, only someone who understands humanity in its most unpretentious traits. Certainly there are these aspects and they are stronger than the evil and the arrogance, otherwise I would not be here writing these phases in front of an existential comfort so superior to those of our history as specie.

And since I know this person exists, I'd like to invite her to dinner.

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Pense em qualquer pessoa no mundo, quem você convidaria para jantar?

O meu discurso nunca foi pensado para me colocar numa posição central, como a de protagonizar as palavras que supostamente deixariam a minha mente. A abstração de mim, um indivíduo que passa quase sempre despercebido pelos cenários da existência, é fundamental para a minha compreensão das pessoas que me cercam. Não é exatamente pelo fato de eu ter a vontade de entendê-las num âmbito mais psicológico, mas para conseguir ter um vislumbre do impacto dos meus próprios pensamentos na percepção alheia. O que aqui está implícito é que não tenho o mínimo apego em conversar com paredes, principalmente aquelas vestidas de certo corpo humano. Outra razão é que não considero as minhas ponderações como relevantes dentro de um ambiente externo à minha psique, pois, o que se constrói na solidão se pereniza na irrelevância de ter assuntos mais adequados a um universo próprio, de difícil penetração, do que ao compartilhamento de opiniões. É verdade que no pesar dos anos, as convicções sempre se revelam tão inúteis quanto à existência efêmera da ignorância sapiente.

Então, por que eu deveria convidar alguém? Por um motivo muito simples: o silêncio escondido por palavras é aterrador, um monstro que engole a semântica da vida para enfim vomitar o desprezo. Às vezes se tem a impressão de que o egoísmo prepondera nas sociedades. O que até certo ponto é verdade, a despeito de não ser uma afirmação absoluta. O entendimento das necessidades individuais de cada pessoa pode ser de grande valor para se interpretar os mecanismos pelos quais nos movimentamos em grupos, pelas conjunções de afinidades diversas  como interesses, sexo e partilhas. Há sempre a troca ou o que se recebe pelo que se dá; fato que não é necessariamente pernicioso, apenas educativo. Além deste comportamento contumaz das pessoas, há uma remota possibilidade de se encontrar alguém cujo querer está sintonizado com a ausência de si. Em outras palavras, também não carregará pelos dias vindouros a necessidade absoluta de receber algo em troca, apenas dar algo de si que seja importante para quem está próximo. Eu não diria que esta pessoa é alguém que tem de tudo, apenas que não precisa de mais nada do que tenha. Eu não diria que esta pessoa é fantasiosa, devido ao fato de estar inserida em comunidades que já abdicaram do altruísmo, apenas alguém que compreende a humanidade em seus traços mais despretensiosos. Decerto existem estes aspectos e eles são mais fortes do que a maldade e a arrogância, senão não estaria aqui escrevendo estas frases diante de um conforto existencial tão superior aos da nossa história como espécie.

E como sei que esta pessoa existe, eu gostaria de convidá-la para um jantar.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

A Day After Another (Um Dia Após o Outro)

Imagem gerada pelo GPT-4o

After tonight there will be no dawn to isolate you from dreams converted into nightmares. The hours fall like storms of the soul and the ghosts of life reappear when silence surrounds you, with your long and eternal arms, with your faded looks and with the subtle sighs that show your disconsolation. I'm not who you want, nor who I want. Behind this mask, I am as fragile as the boy who accompanies me, hidden from maturity. I am as tenuous as that smile that adorned moments of our coexistence. I am as weak as my apathetic desire that ends the continuous search for the wanting. It seems that living is always a search for the invisible, the fleeting, the elusive. I have always fought battles armed with roses, captivating an illusion to deceive your yearnings, and I can not give you my love because you are just addicted to me.

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Após esta noite não haverá um amanhecer que te isole dos sonhos convertidos em pesadelos. As horas lhe caem como tempestades da alma e os fantasmas da vida ressurgem quando o silêncio te envolve, com seus braços longos e eternos, com seus olhares desfalecidos e com os suspiros sutis que evidenciam teu desconsolo. Eu não sou quem você quer, nem quem eu quero. Atrás desta máscara, sou tão frágil quanto o menino que me acompanha escondido da maturidade. Sou tão tênue quanto aquele sorriso que enfeitou momentos da nossa convivência. Sou tão fraco quanto o meu desejo apático que encerra a contínua busca do querer. Parece que viver é sempre uma procura do invisível, do fugidio, do esquivo. Sempre lutei batalhas armado com rosas, ao cativar uma ilusão para ludibriar teus anseios, e não posso te dar o meu amor porque você está apenas viciada em mim.

São Jorge - Saint George

  Imagem gerada pelo Midjourney São Jorge! Mostraste a coragem misericordiosa que me livrou do dragão que sempre carreguei em meu coração. I...