François-Auguste Biard - Magdalenefjorden - Museu do Louvre
Dentro deste quarto, décadas se concentram em torno de uma alma serena. Decerto há um vasto passado que ora pesa sobre estes ombros arqueados pela fadiga dos tempos pregressos, ilustrados em imagens talvez mais ilusórias do que factuais, porém postadas como reais naquela lembrança anciã. Embora vilipendiado pelos anos, seu olhar desenha na parede, nua de quadros, as encenações de uma vida absolutamente comum e trivial, apenas vivida. Marejado de saudades, os olhos pairam no empastelamento dos matizes e se lembram dos personagens sem as cores intensas, porque agora refletem que não há mais vigor nos braços e nos desejos, apenas vestígios parcos que se estendem no tempo como um autorretrato em preto e branco de si, prostrado em paisagens incertas daquele sonho vago que não se realizou. Antes dos idos, ele estava na beira de uma caminhada para um destino que agora chegou encarcerado num quarto ausente de pessoas, num coração apagado de paixões e numa morte enterrada logo mais no futuro. O que ele poderia dizer para si? A mudez escarnece sua insignificância, o gosto amargo das frases devoradas pela falta de paixão. Há um sorriso leve, quase incerto, que pouco adorna a sisudez da expressão. Há um sorriso vindo daquele querer que maltratou os momentos oportunos com o egoísmo. De nada vale esta parede e estas memórias labirintiformes que não encontraram a saída para a felicidade e agora agonizam um já é tarde.