Palavras que carregam sentimentos confusos, pois parecem nascerem dos meus pensamentos difusos e imprecisos. Há algo enraizado neste íntimo que contorce desejos, numa espécie de bravata que me lança ao limbo entre os sonhos e a realidade, entre o querer e poder. Meu toque não te contorna; não percorre a tez suave e quente de uma mulher. Quase dentro de uma existência tênue, que cambaleia na metamorfose impossível da proximidade, sinto-te com o pressentimento de uma imaginação solitária, que procura corpos nas sombras cotidianas, como se lá estivessem. Decerto escrevo esta carta como se conversasse contigo, com as sobras de um homem amarradas entre paredes, longe dos passos que trazem os caminhos amplos da ausência de cidades. Sinto falta dos campos, das árvores e dos pássaros que emprestam seus piados musicados à Natureza. Sinto falta das mãos que caminham juntas com as minhas, ao destino de um horizonte incerto de rotas, mas dentro da certeza de uma presença que também quer ir para lá porque, o que realmente importa, são as mãos dadas.
À quem me der as mãos, escrevo esta carta porque o falar me cala, na mudez do meu mundo e dos objetos irrelevantes que me testemunham. O silêncio assola os dias que insistentemente apenas passam, derramados em calendários eternos e repletos de mesmices irrisórias levadas pelas pessoas que não oferecem corações. Meu universo é vasto, mas isolado dentro de um coração que não aprendeu a bater em sincronismo com outros, mesmo com todo o tempo de uma vida que já dobrou a esquina da vitalidade. O tempo urge diante do presságio da morte e me conduz aos idos estáticos, que não posso alterar a ponto de cruzar o caminho com o pulsar de outro peito. Os fatos estão lá, dentro dos passados púberes, e um pouco além. As andanças para aqui e para os “alis” não me deixaram a herança de um colo para deitar minha intemperança. Não deixaram brilhos em olhos que tudo dizem e enterram o silêncio no esquecimento da vida. Não deixaram palavras que seriam apenas minhas, dentro deste universo de ideias, sonhos e anseios. Escrevo esta carta na esperança de um leitor.
Ao meu leitor, escrevo esta carta com o atraso de décadas e com o pasmo de não te conhecer. Mas, para quem escrevo? Quais são suas emoções que embolam tua vida, o que te surpreende e o que te emociona? Por infortúnio escrevo para apenas um alguém que ora assume uma efígie a que tudo empresto: sentidos e sentimentos selecionados de uma ternura improvável diante de um mundo apressado. Não somos mais crianças lá fora, mas podemos soltar aquilo de mais ingênuo que pereniza um amor verdadeiro: a abnegação de si por outra pessoa e a gratuidade de gostar, livre de ser mesquinho. Ah! Livre! Ao não existir aqui, libero minha expressão a ponto de não temer a tua indiferença. Livre a ponto de te querer dentro de mim e dentro de ti, num uníssono que grita na aridez desta realidade que sempre se impõe e sempre perpetua o longe entre nós. Escrevo esta carta na esperança de outra realidade.
À esta realidade, escrevo esta carta porque quero cativar sensibilidades a ponto de compreender que é possível construir um sonho dentro de uma vida, por mais caminhos que tenhamos passado, por mais adversidades que tenhamos abandonado pelos tempos findos. Quando houver mãos dadas e leitores de coração, transformarei segundos em séculos. Então mais precisarei escrever cartas que se espreitam uma procura nas esquinas e cidades. Apenas direi as palavras deste coração apertado, no livro da tua vida.
Lindo texto!O que importa é o coração e com esperança sempre seguirmos em busca dos nossos sonhos.
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