terça-feira, 12 de janeiro de 2021

A Morte e a Sorte

Gustave Doré, Public domain, via Wikimedia Commons

Estou dentro de uma distância que toca o horizonte. Poderia dizer que é a morte, de tão abruptos são sentimentos que envolvem tempos vindouros. Uma passagem irreal para a irrealidade de pensar no porvir. Quem são os vultos que me cercam neste caminhar pausado e desacelerado? Mal sei o que querem: intenções surpreendidas pelo desespero de tempos sombrios, que nos levam para a incerteza de quem somos. De certa forma, desfaleci no desalento de quereres frágeis, e não sou revólver, nem coqueiro. Sou apenas um tempo passado, uma história inglória e uma voz calada na urgência destes que passam. Levam consigo também seus passados, alguns sem peso, outros em toneladas de frustrações. Quem me levará sou eu, como versificado em outra canção, mas quem me deterá será a morte, se é que ela não está ao meu lado, presunçosa que se assume. É claro que não posso mais ficar, como também não posso ir sem que o destino se revele. Seria então uma espécie de morte temporária, ao som de pintassilgos que só existem para dar um selo poético nesta minha retórica. Na realidade, os vejo cobrirem os urubus que me esperam só porque assim quero ver, ou enfeitar os poucos momentos que me restam dentro desta longevidade que já perdeu seu sentido. Devo ir para outro lugar, ou para lugar nenhum, e a escolha não é da minha consciência, mas de quem eu fui.

São Jorge - Saint George

  Imagem gerada pelo Midjourney São Jorge! Mostraste a coragem misericordiosa que me livrou do dragão que sempre carreguei em meu coração. I...