quinta-feira, 22 de abril de 2021

Doçura - Dulzura

 


Doravante, vou libertar as palavras para passearem na minha mente, para brincarem com todas as semânticas que estão refletidas nos espelhos das minhas emoções, como se o labirinto dos meus pensamentos fossem apenas representações dos sentimentos confinados do coração, que não estão somente presos no corpo que não sai para fora, mas também na saudade e na angústia de não reservar um toque para a tua pele.

Aprisionadas pelas paredes infinitas que destroem as imagens da liberdade, palavras procuram janelas, mesmo em ínfimas frestas despercebidas por aquela massa incógnita e sem sorrisos (às vezes nem mesmo possuem rostos que valham uma memória) que passa por mim com o nome de maioria. Sou, ou estou, reles porque talvez o seja, nesta muralha que me apresento, nestes tempos com ares de idos, nestas ruínas que cobrem meus caminhos.  

Mas a doçura irrompe dentro deste pequeno mundo para lembrar que lá fora está um universo. Doce no nome e nas lembranças de momentos que fizeram parte do meu coração. Singela, como todo sonho deve ser, a lembrança dela vem sorrindo para mim, para assim tatuar a eternidade nos meus desejos.

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De ahora en adelante, dejaré que las palabras divaguen en mi mente, para jugar con toda la semántica que se refleja en los espejos de mis emociones, como si el laberinto de mis pensamientos fueran sólo representaciones de los sentimientos confinados del corazón, que no son solo atrapado en el cuerpo que no sale, pero también en el anhelo y la angustia de no reservar un toque para tu piel.

Encarceladas por las paredes infinitas que destruyen las imágenes de la libertad, las palabras buscan ventanas, hasta en los más pequeños huecos desapercibidos por esa masa incógnita y sin sonrisas (a veces ni siquiera tienen rostros que merezcan un recuerdo) que pasan junto a mí con el nombre de la mayoría. Soy, o estoy, insignificante porque quizás soy, en esta muralla que me presento, en estos tiempos con aires de antaño, en estas ruinas que cubren mis caminos.

Pero la dulzura estalla dentro de este pequeño mundo para recordar que afuera hay un universo. Dulce en el nombre y en los recuerdos de momentos que fueron parte de mi corazón. Sencillo, como debe ser todo sueño, el recuerdo de ella me llega sonriendo, para tatuar la eternidad en mis deseos.


segunda-feira, 12 de abril de 2021

Ir

 

By Dietmar Rabich, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=86318874

Ir! Tão somente ir! Sinto-me carregado pelo tempo à deriva da minha vontade, porque há pecado no querer chegar a nenhum lugar. Avilto as paisagens ao meu lado, e os ombros que se esforçam em me acompanhar. Àqueles que suponho próximos, diria que o destino obriga a urgência, ou que preciso negar as paradas que dariam permissão ao alcance. Uma forma transviada de pensar que afirma que parar é perecer e não há tempo para refletir. Onde está a contemplação? Cadê aquele brilho pranteado nos teus olhos que reflete as luzes apossadas como tuas? A mesma beleza com sutileza melancólica que te acompanha, nega-me a formosura de sentir teus beijos e toques. Sou o oposto do narciso ao procurar a feiura destes passos constantes que derramam distâncias entre nós. Só percebo sombras de indecifráveis imagens e corpos que se misturam aos seus numa peregrinação ímpia dentro da cidade. São pessoas ou criaturas que nego significância. Talvez por rancor ou temor, de mim ou de todos. Minha prisão é o meu andar para além daquele olhar que repousa no longe, na inconsistência de não saber para onde ir, e apenas ir. Perco-te pela fraqueza do querer.

E não quero aqueles embaralhados em ti, apenas te quero sem te querer. Despida de desejos que te despem. Sou apenas uma despedida que pende nas tuas mãos, na ilusão do que fui ou poderia ter sido para dentro do teu mundo. Decerto podemos construir amor em entes que são reflexos de nós, em parte, e de quem queremos ser, na totalidade. Mas amar é antes um exercício do que uma condição, que não combina com adeus, que não harmoniza com distâncias. Não sei o que é o amor, nem me cabe saber como andarilho por tudo que fica na passagem. Apenas suspeito de que amar no longe é apenas uma miragem. No perto, são gostos que se alastram para dentro da sensibilidade, por todos os sentidos e poros. Amantes são déspotas e condescendentes ao mesmo tempo. Pois nada são, ao mesmo tempo que são tudo. 

A estrada se deita na minha frente e me convida para a andança. Preferiria a dança que sente teu cálido ventre, num bailar eterno que entrelaçaria nossas mentes e sonhos. Mas onde você está nesta estrada que não para de vir? Agora eu te quero com desejar, talvez porque não mais te vejo ou sinto. 

Reflexões em 2020

 

Hanna Arendt em 1933 - Domínio Público

Eu poderia descrever os pensamentos que aqui depositarei como uma forma de “primeiras impressões de uma pandemia”, derivado de reflexões circunspectas extraídas de uma observação limitada do ambiente onde vivo. Primeiramente porque há uma abordagem possivelmente pessimista, ao se considerar que haverá algumas menções sobre comportamentos sociais de uma minoria. Além disso, falta-me uma instrumentação teórica mais aprofundada, principalmente sobre as pautas relacionadas à evolução histórica da mentalidade humana. Decerto haveria um anacronismo a ser considerado, bem como a correta caracterização da influência deste nos eventos mais proeminentes da humanidade que catapultaram guerras catastróficas. O primeiro ponto não é sobre a imbecilidade humana das pessoas que agridem outros por motivos irrelevantes, ou negam o cumprimento das regras sociais mais simples, porque é uma minoria de fato. O meu maior medo não está nesta ignorância disseminada pela sociedade que somente avança em quantidade de adeptos porque, simplesmente, não há um sistema efetivo de punições que iniba atitudes socialmente execráveis. O problema está do outro lado. As pessoas que prezam pelo discernimento com base no bom senso, na inteligência e na ciência, são omissas pelo princípio da tolerância. Porém, entre estes dois lados da sociedade há outro ainda mais tenebroso: os medíocres. É certo que preciso estudar profundamente os escritos de Hannah Arendt encontrados em “Eichmann em Jerusalém”, já que algumas pessoas citaram esta obra como um marco filosófico que responde muito bem ao que se entende como a banalização do mal e o desenraizamento das pessoas com a realidade. Suspeito que nesta obra está mostrado que o pior do nazismo foi sustendo por pessoas razoavelmente inteligentes, mas medíocres, replicadoras de clichês e seguidoras incontestes de líderes. O maior problema emerge quando se percebe que o cidadão médio medíocre é o que compõe a maior parte da população. Mas, aonde eu quero chegar? Basicamente numa suspeita de que o tempo das conquistas sociais da humanidade pode estar no início de uma fase de estagnação para depois começar um retrocesso, ou seja, a “Era da Decadência”. Percebo alguns elementos preocupantes relacionados com proselitismo, maniqueísmo, "empoderamento" da ignorância e negacionismo que podem sugerir uma época mais sombria para a humanidade. Questões econômicas, como a piora nos índices de distribuição de renda, parecem retirar dos povos o caminho da paz social na medida em que parcelas expressivas da população começam a entrar num ambiente de pobreza material (comparada com as exigências sociais) e intelectual (advinda do excesso de informações não estruturadas).


São Jorge - Saint George

  Imagem gerada pelo Midjourney São Jorge! Mostraste a coragem misericordiosa que me livrou do dragão que sempre carreguei em meu coração. I...