segunda-feira, 12 de abril de 2021

Reflexões em 2020

 

Hanna Arendt em 1933 - Domínio Público

Eu poderia descrever os pensamentos que aqui depositarei como uma forma de “primeiras impressões de uma pandemia”, derivado de reflexões circunspectas extraídas de uma observação limitada do ambiente onde vivo. Primeiramente porque há uma abordagem possivelmente pessimista, ao se considerar que haverá algumas menções sobre comportamentos sociais de uma minoria. Além disso, falta-me uma instrumentação teórica mais aprofundada, principalmente sobre as pautas relacionadas à evolução histórica da mentalidade humana. Decerto haveria um anacronismo a ser considerado, bem como a correta caracterização da influência deste nos eventos mais proeminentes da humanidade que catapultaram guerras catastróficas. O primeiro ponto não é sobre a imbecilidade humana das pessoas que agridem outros por motivos irrelevantes, ou negam o cumprimento das regras sociais mais simples, porque é uma minoria de fato. O meu maior medo não está nesta ignorância disseminada pela sociedade que somente avança em quantidade de adeptos porque, simplesmente, não há um sistema efetivo de punições que iniba atitudes socialmente execráveis. O problema está do outro lado. As pessoas que prezam pelo discernimento com base no bom senso, na inteligência e na ciência, são omissas pelo princípio da tolerância. Porém, entre estes dois lados da sociedade há outro ainda mais tenebroso: os medíocres. É certo que preciso estudar profundamente os escritos de Hannah Arendt encontrados em “Eichmann em Jerusalém”, já que algumas pessoas citaram esta obra como um marco filosófico que responde muito bem ao que se entende como a banalização do mal e o desenraizamento das pessoas com a realidade. Suspeito que nesta obra está mostrado que o pior do nazismo foi sustendo por pessoas razoavelmente inteligentes, mas medíocres, replicadoras de clichês e seguidoras incontestes de líderes. O maior problema emerge quando se percebe que o cidadão médio medíocre é o que compõe a maior parte da população. Mas, aonde eu quero chegar? Basicamente numa suspeita de que o tempo das conquistas sociais da humanidade pode estar no início de uma fase de estagnação para depois começar um retrocesso, ou seja, a “Era da Decadência”. Percebo alguns elementos preocupantes relacionados com proselitismo, maniqueísmo, "empoderamento" da ignorância e negacionismo que podem sugerir uma época mais sombria para a humanidade. Questões econômicas, como a piora nos índices de distribuição de renda, parecem retirar dos povos o caminho da paz social na medida em que parcelas expressivas da população começam a entrar num ambiente de pobreza material (comparada com as exigências sociais) e intelectual (advinda do excesso de informações não estruturadas).


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