A subversão só existe se acompanhada do rancor. Ao pensar desta forma, posso chegar à conclusão de que tenho muito rancor. Não exatamente de alguma pessoa em específico, ou daquele grupo de idiotas que vão a Copacabana louvar um verdadeiro e comprovado imbecil.
Eu gostaria de compreender profundamente a gênese do meu rancor, para me tornar um amigo dele, e levá-lo para conversar naqueles bares longínquos no tempo. Diante do ruído incômodo dos botecos que se fixam naquele passado, como se fossem as vozes de repreensão ouvidas daqueles que se vestem de autoridade. Será que o volume de palavras que tentaria descrever meu rancor aumentaria a minha consciência de quem é ele? Ele está aqui e posso senti-lo, posso externar alguns dos seus tentáculos, e sei que ele precisa de algo para ser exercido. O problema em si está em definir este algo, em clarear e extirpar suas sombras, tirá-lo da penumbra.
Dentro de mim há estas sombras que escondem a cólera pelo que pressinto nos caminhos da humanidade. Sei que o tempo está por terminar no cronômetro do destino, para decretar o findar de todos os sonhos alicerçados por filósofos e pelas pessoas comuns. Iluminar tais sombras dentro de mim é como retirar o manto raivoso da violência, é fazer o meu Cérbero se voltar contra Hades, contra todos os demônios que assombram nossos dias.
Pode ser que me metamorfoseie num monstro, ou num bebê chorão, embora eu sinceramente não saiba já que a subversão é inconstante e imprevisível. O rancor que a sustenta pode se transformar em qualquer coisa que transborde através das minhas ações e pensamentos, pelo tempo que me resta, nesta digressão de recusar quem querem que eu seja. Eu apenas não posso ficar indiferente a este sentimento acolhido e prensado dentro de mim pelo peso de todas as circunstâncias da minha vida, das nossas vidas: o rancor que movimenta a subversão.
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Subversion only exists if accompanied by rancor. Thinking this way, I can conclude that I harbor much rancor. Not specifically towards any person, or that group of idiots who go to Copacabana to praise a true and proven fool.
I would like to deeply understand the genesis of my rancor, to become a friend of it, and take it to converse in those bars distant in time. Amid the uncomfortable noise of bars fixed in that past, as if they were voices of reprimand heard from those who don themselves in authority, would the volume of words I might use to describe my rancor increase my awareness of who it is? It is here and I can feel it, I can externalize some of its tentacles, and I know it needs something to be exercised. The problem itself lies in defining this something, in clarifying and extirpating its shadows, in bringing it out of the penumbra.
Within me are these shadows that hide the wrath for what I sense on the paths of humanity. I know that time is about to end on the destiny’s stopwatch, to decree the end of all dreams laid by philosophers and common folk alike. Illuminating such shadows within me is like removing the wrathful cloak of violence, it is to make Cerberus turn against Hades, against all demons that haunt our days.
I might metamorphose into a monster, or a whining baby, although I sincerely do not know since subversion is inconsistent and unpredictable. The rancor that sustains it can become anything that overflows through my actions and thoughts, for the time that remains to me, in this digression of refusing who they want me to be. I simply cannot remain indifferent to this feeling embraced and compressed within me by the weight of all the circumstances of my life, of our lives: the rancor that drives subversion.
" Almas antigas, que nos assustam, quando deparamos com as incertezas da vida " Um grande abraço ❣️
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