quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Novo Projeto Poético - Janelas da França (New Poetic Project - Windows of the France)


Evidências e imaginação são motores da argumentação. Porém, diferentemente do cientista metódico, o escritor procura a sugestão. Nada cria em si, apenas na reflexão distorcida da sensibilidade. A ausência pode ser uma entidade da mesma forma que a abundância. A solidão pode ser um labirinto, ou a motivação da existência. Depende de como lemos o que se escreve. Depende de como a semântica cotidiana e coloquial influencia a compreensão. É claro que existem universalidades que transpassam séculos. É claro que existem genialidades que refreiam o tempo. O escritor está aqui como um canal do que sente, na captura semiológica do seu mundo, envolvendo-o numa prisão sem portas para o entendimento de que a alma é cativa da substância, mas feita de liberdade. E quando há o equilíbrio confesso das tendências do espírito, os minutos que giram os relógios são insignificantes.

Evidence and imagination are engines of argumentation. However, unlike the methodical scientist, the writer seeks the suggestion. He creates nothing in itself , only builds the images in the distorted reflection of sensitivity. The absence can be an entity, in the same way as the abundance. The loneliness can be a labyrinth or the motivation of existence.  It depends on how we read what is written. Depends on how the quotidian and colloquial semantic influences the insight. Of course there are universalities that trespass the centuries. Of course there are geniuses which refrain the time. The writer is here as a channel for what he feels, in semiological capture of his world, enfolding it in prison without doors to the understanding that the soul is captive of the substance, but made ​​of freedom. And when there is a avowed balance of trends in the mind, the minutes that spin in the clocks are insignificant.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Sobre o Fim da Inocência


Escreverei sobre assuntos que talvez não estejam tão bem ligados. O que pode ser até proposital, porque eu não consigo identificar em mim as razões pelas quais eu estou tão desconfortável nestes últimos anos. São pequenos fatos, eventos, palavras e ideias que incomodam. Aparentemente, elas não estão acopladas de forma a proporcionar uma teoria reveladora, se é que existe algo semelhante. Se existir, caberá aos sociólogos e antropólogos interessados comentar o que pensam sobre a foto que ilustra este texto. Eu não penso, apenas sinto algo que entope ainda mais a minha sinusite, agravada pelo ar de São Paulo.

Estes momentos vêm de todos os lugares. Estão na bisbilhotice de ouvir conversas alheias no restaurante; no ar rancoroso com que as pessoas comentam sobre as instituições; no consumo indiscriminado de crack pelas ruas desta metrópole; nas barbáries que se estendem pelas páginas dos jornais e revistas; na malversação de políticos que tanto prometeram há alguns anos;  na imensa miséria humana que chega aos nossos pés, saltitando nos sinais, dormindo ao relento, depositando fezes e seus cheiros pelos caminhos.

Mas desta vez a aparência decreta o fim da inocência. Não há mais sorrisos para adornar o semblante, nem vestígios daquela serenidade ocasionada por uns poucos sonhos, que ainda entorpeciam a mente. A sisudez da face e a escassez de expressões traduzem uma pessoa perdida dentro do labirinto dos seus desejos. Trancafiada pelas sequelas das suas tentativas de felicidade, já que associou a alegria da vida à satisfação das suas cobiças. Esqueceu-se de quem fez o plano e do quando se imaginou a existência de um futuro e de realizações. Esqueceu-se de quem era, ou não poderia supor por desconhecer o seu íntimo. Obviamente, neste caso a ignorância é o motor da vontade. Deve-se rumar para o conhecimento. Porém, o “como”, ou o método, é a ferramenta apenas dos sábios. E definitivamente hormônios não combinam com sabedoria. Quando mais jovem, mais somos impelidos pelos instintos e pela necessidade de suprir os vácuos emocionais que surgem desde que saímos das fronteiras da infância. Não se entende aquele corpo, não se conhece as muralhas psicológicas que foram construídas nos anos imberbes.  Mas naturalmente avançamos quase como cegos na velha estratégia de se errar para aprender. E sempre se erra muito neste processo quase que caótico. Encontram-se pessoas. Às vezes constituem-se famílias, têm-se os filhos e vive-se de uma maneira relativamente confortável até os dias derradeiros da velhice.  Assim, através de gerações o mecanismo social nos impele por algo que se entende tacitamente por felicidade. O que acontece desde os tempos tribais. Há algo semelhante nas aglomerações preponderantes neste mundo. Há algo que normatiza, mesmo que tacitamente, o que se deve fazer para ser feliz. Viver em sociedade é algo como acumular signos e representações, que montam conceitos e valores e nos levam a condutas e comportamentos.

Escrevendo desta maneira, parece que até defendo as consequências semióticas no plano do indivíduo. Porém, não é apenas uma questão de defesa, mas da existência em si de um campo de interpretações derivado exclusivamente da inserção em sociedade. A significação do que está escrito aqui, e em qualquer obra com heurísticas filosóficas ou névoas literárias, pressupõe o crivo social, em maior ou menor grau. O que é belo (ou aceito) neste bando que de forma contumaz denominamos como povo, ou até país, pode não ser tão belo para outras tribos ao redor do mundo. Salvo poucos esclarecidos, ninguém parece livre do sistema de valores da sua tribo. E no mundo globalizado a questão parece ainda mais complexa porque existem tribos dentro de tribos, intersecções culturais, dispersões geográficas de ideias e patetices justificadas para aglutinação de interesses. A política deveria ser o cimento de toda a mixórdia de interesses, mas os tempos inocentes já se foram. Temos nossos gostos direcionados pelos predadores sociais. E quanto mais alienados são os indivíduos, numa espécie de preguiça mental que gera a inércia e a inépcia social, mais conduzidos eles são. É uma lei antiga que eu conheço desde os tempos da minha infância: emburrecer para dominar.  O homem chegou à lua, lançou o mote da paz e amor dentro dos movimentos hippies, derrubou o muro de Berlin, ampliou o acesso às informações e comunicações, mas continua burro, sem capacidade analítica para se entender no contexto histórico. Portanto, todos seguem o que se entende por caminho da felicidade.

Obviamente há variações comportamentais e outras formas de valores sociais ou grupais cujo conhecimento não prescinde de um prévio contato com a Antropologia moderna. De qualquer maneira, é do próprio Claude Lévi-Strauss a citação “a humanidade está constantemente às voltas com dois processos contraditórios, um tende a criar um sistema unificado, enquanto o outro visa manter ou restaurar a diversificação”. Mas provavelmente isto foi num tempo anterior ao seu “Tristes Trópicos”.  O desencanto leva a mentalidade a assassinar seus conceitos. Alguns deles tão arraigados que extirpá-los da consciência demanda algo próximo à desilusão ou prostração. Decerto, quando apenas eliminamos, sem o preenchimento dos vácuos com a lucidez dos anos ou novos momentos de reflexão, tendemos a nos sentir também esvaziados. E é nesse momento que decretamos o fim da inocência. Nada novo virá apenas revestido pela elegância do pensamento, ou pela eloquência e simpatia de quem nos transporta. Nada novo virá de uma forma gratuita ou seduzida pela imagem que fazemos do pajé ou chefe tribal. Ou ainda daquele identificado como mestre, curador da imensa obra humana. Resumida em uns poucos livros, é claro!  Para estes exercerem o domínio existe a necessidade de se criar elementos tão antigos quanto aqueles que existiram no tempo em que os aglomerados humanos se estabilizaram ao inventarem a agricultura. Cria-se o céu, prometido àqueles que seguem alguma espécie de regramento, tácito ou não. Cria-se o inferno para aqueles que se desviam. Cria-se o protetor, que cuidará do repositório obscuro do dito conhecimento. Porém, quando se elimina o céu e o inferno, bem como consequência o processo maniqueísta de classificar as pessoas, elimina-se também o protetor. Assim estaremos muito sozinhos, mas livres. É algo parecido com o escolher da pílula vermelha em Matrix. Quebrar todos os vínculos que a inocência enraizou em nosso ânimo, abre a consciência para a dura verdade do existir.

É neste contexto que histórias vão surgir e montar uma literatura livre, além de obviamente não comercial.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Retalhos da Alma


Depois de tanto tempo, finalmente cá estou para divulgar a publicação do meu primeiro livro. Atualmente ele se encontra disponível em dois formatos. O primeiro é eletrônico e está disponível na Amazon para o Kindle. Para acessar o site, basta clicar no link abaixo:

Retalhos da Alma - Kindle

O segundo formato é o impresso, que pode ser acessado através do link abaixo:

Retalhos da Alma - Versão Impressa

Basicamente, o conteúdo do livro são os textos que estavam colocados neste blog quando era chamado de Fragmentos de Uma Paixão Desmedida. Esta é uma oportunidade para quem quiser reler aqueles textos, ou para pessoas que apreciem o meu estilo.

Um forte abraço.
Checon

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Mo Yan - Mudança


A rigor, qualquer um sempre guarda algumas superstições na vida cujas origens quase sempre são indetectáveis. Porém, recentemente eu soube que nunca deixo uma mala aberta porque ela se assemelha a um caixão de defunto. Por mais estranho que isto pareça, era assim que os meus ancestrais italianos consideravam, e é por isso que eu sempre fecho qualquer mala, numa tentativa de não deixar qualquer fantasma me assombrar, mesmo sem acreditar neles. Esta é uma espécie de herança que ultrapassa as explicações. O problema é que algumas destas informações herdadas, tanto da família, como daquelas imersas no coletivo, se transformam em preconceitos. Como no caso da China, que sempre imaginamos como composta por um povo oprimido e infeliz, que trabalha a fio e ganha salários medíocres.

Bem! O que se vê neste livro do Nobel Mo Yan é uma história de base autobiográfica, em cujo enredo nem me atrevo a decifrar o que é realidade dentro da ficção. Basicamente, num estilo limpo e atraente, narra uma história que tem como pano de fundo as "mudanças" ocorridas na China desde 1969. Para nós, longe dos acontecimentos que lá se passaram, parece improvável que existisse um empreendedor como He Zhiwu, cuja principal história é deliciosamente tratada no capítulo 7. Parece fora de cogitação aquela vida simples e alegre, com camponeses bem de vida, empresários e funcionários. O fato é que o livro é lindo e, salvo alguns pontos que estranhei (como o repentino aparecimento na história da esposa de Mo), me pareceu uma história bem tocada, que atendeu a encomenda do editor de Calcutá plenamente: retratar as mudanças ocorridas na China. Além disso, reforça a minha crença de que o ambiente muda, mas as pessoas são sempre as mesmas. Os sonhos são sempre parecidos, não importa em qual canto do planeta você esteja.

Fernanda Torres - Fim


No livro "The First Five Pages", de Noah Lukeman, é aconselhado atrair e seduzir o leitor (no caso o editor) nas primeiras cinco páginas do livro para que este não vá para a pilha de rejeição. Sol Stein também sugere algo semelhante. Assim, começarei pelo primeiro capítulo do trabalho de estreia da autora, que tem o título "Fim". Deste a leitura do livro "O Amante do Vulcão", da premiadíssima Susan Sontag, eu tenho a nítida impressão de que as escritoras somente conseguem enxergar e desenvolver dois tipos de personagens masculinos:  aqueles exageradamente romantizados (no caso do Amante), ou aquele tipo totalmente vazio de ideias que apenas toca a vida com gracejo e certa melancolia. A Fernanda não foge a esta regra, mas optou pelo segundo estereótipo, em todos os principais personagens masculinos apresentados.  Começa a história em primeira pessoa num ritmo frenético (com a técnica de frases curtas e mudanças abruptas no tempo da narrativa), muito rápido para a introdução de uma dezena de personagens em diversas linhas de tempo. A certa altura eu confundi quem era quem e se o protagonista estava a pé ou de carro. Estava de carro, mas no final fica a pé. Há também o conflito de querer emburrecer o coitado, mas citar um detalhe um tanto erudito. De qualquer maneira, é divertido, bem pesquisado e bem escrito.  Eu o colocaria na minha pilha de rejeição, mas pelas características positivas eu me permiti continuar. Espere-me um pouco mais, querida Herta Müller.

A narrativa passa para a terceira pessoa e um personagem do primeiro capítulo é pescado para continuar. As frases são maiores e mais introspectivas. Há uma elegância no escrever que caracteriza uma mulher, é claro. E pequenas histórias seguem numa sequência muita rápida, com linhas de tempo concomitantes, futuro e passado misturados, personagens brotando às dezenas, variação de discurso em primeira e terceira pessoas. Em um determinado ponto eu fiquei cansado de retornar páginas e mais páginas para tentar compreender onde eu estava. Tanto que lá pela página 100 eu cogitava desistir.

Porém, depois da metade do livro a história fica mais clara e, assim, também atraente. A confusão gerada pela aparente aleatoriedade entre a utilização da narrativa em primeira e terceira pessoas é desfeita quando se percebe que os protagonistas do "fim" falam em primeira pessoa. Isto é, quando cada um dos que vão falecer falam do dia derradeiro. Para o povaréu restante, a autora preferiu a onipresença intrusiva da terceira pessoa. Um recurso arriscado que ela preferiu correr.

Em todo caso, talvez mais pelo excesso de idas e vindas do texto, os personagens vão se revelando pouco a pouco. A confusão do tempo permanece, o excesso de alternância entre cenas e personagens também, mas num ritmo menor. A construção retalhada finalmente mostra que a história caracteriza o que eu poderia designar como tragédia carioca dos anos 70. É exagero ou restritivo apenas regionalizar como "carioca"? Talvez, mas a minha vida naqueles anos transcorreu entre São Paulo e Rio. Obviamente eu percebia que existiam nuanças específicas entre os impactos daqueles anos nas duas sociedades. Isto para mim justifica o "carioca", embora que o principal está no livro: o desmoronamento da família e a explosão da individualidade. Todas as consequências sociais da crise do petróleo de 1973 não foram mostradas. Não era a intenção da história (ou das histórias) a caracterização da metamorfose dos personagens (como no Mudança do Mo Yan), a não ser para a melancolia derradeira de vidas levadas ao extremo, e daqueles que as acompanharam.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Feliz 2015


O curioso desta época de festas é transformação que sempre ocorre com as pessoas: lembram-se dos sucessos e insucessos do ano que se finda, e planejam o porvir. É sempre um tempo de reflexão e esperança, onde se procura algum desacerto para corrigir e se empenha toda confiança nos dias que estão ali, após a virada do réveillon. A questão mais básica para se refletir é se fomos felizes neste ano que está literalmente com os dias contados. Felicidade, insumo básico do bem estar da vida, é uma espécie de conceito vago, abstrato e subjetivo. Sempre a desejamos para aqueles que moram em nosso coração, e às vezes até para aqueles com quem travamos as mais sérias bravatas. Tudo dependerá do quanto nossa alma é altruísta. Felicidade não se compra, embora tenhamos a impressão de que posses materiais a garantiriam. Felicidade não se dá, embora possamos inspirá-la com nossa alegria e positividade. Felicidade é quase como aquele sonho que se tem acordado, onde imagens que nos confortam transitam pela mente, trazendo um estado de bem estar sempre pressentido por entre as horas do cotidiano. Então devemos perguntar a nós mesmos, fomos felizes? Na aritmética imprecisa do nosso íntimo, o balanço das realizações sobre as vicissitudes pode redundar uma conclusão que não. Então devemos identificar o que nos afetou, mas de uma forma isenta de emoções impuras, aquelas que estão mais ligadas aos fatos de infortúnio do que ao que ocorre no nosso íntimo. Depois devemos planejar como evitar ou refutar os mecanismos pelos quais as situações incômodas ocorreram. Talvez isto seja simples, ou talvez não. Neste último caso, devemos nos apoiar naqueles ou naquilo que nos navegaria por mares mais calmos.

Por outro lado, a aritmética pode nos dizer que fomos felizes. Então, devemos cruzar os braços e esperar que a inércia nos traga outro ano feliz? Definitivamente não! A vida é deveras dinâmica para que esperemos pelas realizações. Precisamos nos inspirar, nos motivar, sonhar, viver uma vida digna de ser vivida. Podemos ajudar aqueles que estão ao nosso redor, ou mesmo mais longe. Podemos confortar os que não foram brindados por este sentimento gostoso de alegria cotidiana. Podemos lutar contra a injustiça, a corrupção, a malversação. Podemos tanto, mas tanto mesmo! Basta começarmos.

Feliz 2015.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Constatação


Não há nada neste quarto, nem uma sombra de quem já foi. Não há nada além de objetos que não representam nada além de funcionalidades. Mesmo naquele quadro da Toscana, pendurado quase no canto, não há ninguém que caminha pela relva. Nem a aquarela de Ouro Preto, nem o lenço do Azerbaijão, nem o perfil em relevo de Pablo Neruda dão mais as mãos para quem quer que seja. Assim, uma lágrima percorre meu rosto, mas não é de comiseração, nem de autopiedade. Eu diria que ela é apenas uma testemunha líquida da represa no meu peito, que estanca séculos de paixões. Na imensidão do meu coração, os dias passam escorregadios, sem rédeas que os levem para a felicidade. Um após o outro, são marcados com um xis de passado. Um após o outro levam os sonhos para o cemitério do esquecimento.

domingo, 26 de outubro de 2014

Madrugada de Domingo (La Madrugada del Domingo - versión española).


Pronto estará claro. El sol va a barrer las sombras ya desvanecidas de los objetos. El silencio de la adelantada madrugada va a ser una samotana de sonidos tintineantes de las cosas que deshacerse del frío, aunque no tan intenso. No habrá cantos de gallos porque no hay más patios en la ciudad agrisada. Habrá apenas insistentes píos de gorriones adentro de los árboles olvidadas y sobre los tendederos de filos que llevan la modernidad para adentro de las residencias. Después vendrán los coches y los autobuses, aumentando el volumen para estruendos de civilización.

Pero, por mientras, estoy solo con las calles desiertas y mal alumbradas por las esparcidas bombillas. A veces, un perro protegido por verjas asusta mío caminar. A veces, bultos hacen mi fisonomía verter seriedad, para después si aligerar al constatar los borrachos de fin por la noche. Desatinados y largados en el bordillo, acompañados o no de botellas vacías.  O acompañados de la misma soledad que se abulta por el negror del cielo. Soledad que esconde los horizontes, los porvenires y el destino de la misma forma que el negro de la obscuridad. Y de la misma forma que la vida baldía, que está esparcida entre la acera y la calle, bebo la soledad por el gollete y abandono mi ánimo por la vida mal iluminada. Con las mismas ropas arrugadas y desarregladas, visto la infelicidad andrajosa.

Sin embargo, a sí mirar mejor para uno de ellos, percibo el blanco de una camisa fina, allende de una botella de Stolichnaya al lado, con por lo menos un trago adentro, casi a si derramar en el suelo. Sospecho que no estoy delante de alguien de lo populacho.  Qué me lleva a pensar que la miseria de la mente conduce el alma para alguna forma de pordioseo. No le daré una moneda porque él no necesita, ni puedo dar mi complacencia porque yo no preciso. Los caminos nos llevan para lugares distintos y aquel cuerpo es apenas más uno delante de tantos que cruzo. Mantengo mis pasos, mismo cuando ellos me llevan para un rumbo incierto. No hay tanta benevolencia franciscana en mi vida para parar por algunos minutos. De todos modos, él no me parece despierto. Creo que suya vista apenas busca la obscuridad que está tras de mí para olvidar que tiene un mundo a suyo rededor. Así, ignorándolo, sigo enfrente.

Atravesé las calles por diversa veces. A veces me sentía bien del lado impar de las casas. A veces esto me incomodaba y yo perfilaba con los pares. No me pregunten las razones para esto. En la falta de lo que hacer yo invento todas las formas de motivo, como aquél que me llevó a salir del bar y caminar casi 15 kilómetros hasta mi casa. Percibo qué hay pocos coches estacionados y disponibles para ser robados. No que yo tenga intención de hacerlo, pero no solamente mi vida abatió: todo parece desmoronar en estes tiempos sombríos. Caminar por la madrugada y estacionar coche en la calle son cosas para locos.

Es verano y no hay orvallo para brillar en los primeros rayos de sol. Es una pena porque me gusta ver la humedad avanzar por las paredes para después lentamente secar. Parece un movimiento que baila con el sol y da vida a estos muros descoloridos. De todos modos, son casi cinco horas y yo veré apenas las construcciones se accedieren más. Veré el marrón de los tejados de las pocas casas y la ceniza de las rejas clarearen. Parece que el negro de los portones también clarea. Luego oiré los ruidos, veré las personas. Éstas por cierto un poco más tarde, porque es domingo y ellas desfilan sus perezas matutinas en casa, debidamente autorizadas por el calendario. Veré los chuchos que ladraban en mi camino. Los drogodependientes a salir de sus paquetes nocturnos. Los borrachos tropezando en sí mismo a caminar para sus lares, cuando hubiere uno. Veré la portería de mi edificio y nadie a esperarme.

No me veré porque no se ve lo que no se comparte. Es por el foco de la pasión que nos percibimos.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Madrugada de Domingo


Logo mais estará claro. O sol varrerá as sombras já esvaecidas dos objetos. O silêncio da avançada madrugada será barulhado por ruídos tilintantes de coisas que se livram do frio, mesmo que não tão intenso. Não haverá cantos de galos porque não há mais quintais na cidade acinzentada. Haverá apenas insistentes pios de pardais dentro das esquecidas árvores e sobre os varais de fios que levam a modernidade para dentro das residências. Depois virão os carros e os ônibus, aumentando o volume para estrondos de civilização.

Mas, por enquanto, estou só com as ruas desertas e mal iluminadas pelas esparsas lâmpadas. Às vezes, um cachorro protegido por grades assusta meu caminhar. Às vezes, vultos fazem minha fisionomia verter seriedade, para depois se aliviar ao constatar os bêbados de fim de noite. Desatinados e largados no meio-fio, acompanhados ou não de garrafas vazias.  Ou acompanhados da mesma solidão que se avulta pelo negrume do céu. A solidão esconde os horizontes, os futuros e o destino da mesma forma que o negro da escuridão. E da mesma forma que a vida baldia, que está espalhada entre a calçada e a rua, eu bebo a solidão pelo gargalo e abandono meu ânimo pela vida mal iluminada. Com as mesmas roupas amarrotadas e desarrumadas, visto a infelicidade maltrapilha.

Porém, ao se olhar melhor para um deles, percebo o branco de uma camisa fina, além de uma garrafa de Stolichnaya ao lado com pelo menos um gole dentro, quase a se derramar no chão. Suspeito que não estou diante de alguém da arraia-miúda.  O que me leva a pensar que a miséria da mente conduz a alma para alguma forma de mendicância. Não lhe darei uma moeda porque ele não precisa, nem posso dar minha complacência porque eu não preciso. Os caminhos nos levam para lugares distintos e aquele corpo é apenas mais um diante de tantos que cruzo. Mantenho meus passos, mesmo quando eles me levam para um rumo incerto. Não há tanta benevolência franciscana na minha vida para parar por alguns minutos. De qualquer maneira, ele não me parece acordado. Creio que a sua vista apenas procura a escuridão atrás de mim para esquecer que tem um mundo ao seu redor. Assim, ignorando-o, sigo em frente.

Atravessei as ruas por diversas vezes. Às vezes me sentia bem do lado ímpar das casas. Às vezes isto me incomodava e eu perfilava com os pares. Não me perguntem as razões para isto. Na falta do que fazer crio todas as formas de motivo, como aquele que me levou a sair do bar e caminhar quase 15 quilômetros até a minha casa. Percebo que há poucos carros estacionados e disponíveis para serem roubados. Não que eu intencione fazê-lo, mas não somente a minha vida desabou: tudo parece desmoronar nestes tempos sombrios. Caminhar pela madrugada e estacionar carro na rua são coisas para loucos.

É verão e não há orvalho para brilhar nos primeiros raios de sol. É uma pena porque gosto de ver a umidade avançar pelas paredes para depois lentamente secar. Parece um movimento que dança com o sol e dá vida a estes muros desbotados. De qualquer maneira, são quase cinco horas e eu verei apenas as construções se acederem mais. Verei o marrom dos telhados das poucas casas e o cinza das grades clarearem. Parece que o preto dos portões também clareia. Logo ouvirei os ruídos, verei as pessoas. Estas decerto um pouco mais tarde, porque é domingo e elas desfilam suas preguiças matutinas em casa, devidamente autorizadas pelo calendário. Verei os vira-latas que latiam no meu caminho. Os dependentes de crack a saírem dos seus pacotes noturnos. Os bêbados tropeçando em si mesmo a caminhar para seus lares, quando houver um para irem. Verei a portaria do meu prédio e ninguém a me esperar.

Não me verei porque não se vê o que não se compartilha. É pelo foco da paixão que nos percebemos.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Religiosidade


Talvez por um descuido na minha formação, ou talvez pela maneira arrazoada como trato os problemas e, por conseguinte, o desconhecido, eu não sou um frequentador assíduo de templos ou locais eclesiásticos. Exceto pelo valor histórico e humanístico das edificações e objetos, bem como sua importância semiótica (motivos mais do que justos para eu visitá-los) eu sempre pensei que a igreja existe no meu coração. Fora dele existem os eventos onde eu aplico o meu livre arbítrio. Às vezes as situações são factíveis de interpretar, outras vezes nos remetem para conjecturas fantásticas. O que não conheço me incomoda, ou incomodava, mas nunca utilizarei uma explicação através de meios impossíveis de se comprovar. Prefiro um sincero “não sei” às especulações mirabolantes. Todavia, dentro do meu coração é onde eu posso encontrar a paz e o divino para prover significação para os meus dias. Pois eu sou um físico. Não no sentido de ofício, mas de formação. E ser físico não é fruto de oportunidades fortuitas que o destino te presenteou. Ser físico representa uma escolha profundamente sedimentada nas minhas convicções. Porém, neste momento eu gostaria de não tergiversar através de estereótipos elegantes ou maquiavélicos do conceito desta formação. As minhas convicções concernem com a questão da indomesticabilidade do meu pensamento, da forma como eu emprego a heurística para prover substância e certezas relativas ao meu raciocínio, e principalmente como eu controlo a emoção para me isentar das preferências de escolha. Poderia agora expandir a frase para: “eu sou um físico que carrega uma medalha de São Judas Tadeu no meu peito”. Mas não sou católico, na assertiva mais aceita da adjetivação. Isto provocou uma espécie de indignação num garçom que conheci em Milão. Ele abriu seus braços quase na amplitude de aplicar um abraço, olhou para o belo teto vitral da galeria Vittorio Emanuele, embora procurasse representar que fitava os céus, e montou uma expressão facial como se dissesse: perdoe-o, ele não sabe o que fala! E eu ainda acrescentei: comprei no Vaticano, e banhei por três vezes na primeira pia batismal que encontrei na Catedral de São Pedro. A expressão virou um balançar de cabeça que dizia: não, não, não, não. Você deve estar pensando por que três? Ah! Na Cabala o número três significa luz. Mas por que não sete, que representa o triunfo do espírito sobre a matéria? Será que utilizei a numerologia, onde o número três regula a criação e a criatividade? Ou utilizei o sistema pitagórico, onde o três é reservado para os artistas e escritores? Bem! O número três foi escolhido apenas por um acordo entre eu e o meu filho para estabelecermos um ritual mínimo, e o seu significado é ainda mais minimalista: gostamos dele! Afora o gracejo, este sou eu: livre, mas que respeita a necessidade de rituais e celebrações com o divino, e que também sente falta do entendimento do meu significado dentro do mundo, dentro da existência e da humanidade. 

São Jorge - Saint George

  Imagem gerada pelo Midjourney São Jorge! Mostraste a coragem misericordiosa que me livrou do dragão que sempre carreguei em meu coração. I...