Será que todos os sistemas filosóficos e divinos, que versam sobre uma separação entre consciência e corpo, construídos em todas as sociedades humanas, quase sem exceções, não seria uma resposta ao inconformismo resultante do aniquilamento? Conquanto seres que têm consciência de si, que elaboram uma construção de vida que deve se perenizar por décadas, não é terrível pensar que tudo será em vão? Pois, no final das contas, restará apenas algo em constante deterioração, algo que não reconhecemos como nós. Apenas algo! Então, a constatação da morte por uma suposta consciência de si não deveria irritá-la?
Ao contrário, Jorge se observa morto, em alguma cadeia em Palmas, no meio da sujeira asquerosa e catarrenta das jaulas brasileiras, quase imaculado dos odores e ruídos surdos e grotescos que barulham aquele ambiente dos últimos dias, indiferentes à vida ou à morte. Como deveria aquele fio de existência, quase relutante em se lançar na ausência profunda, pensar sobre si? Se este ato fosse um alívio, ele deveria apenas exclamar “constato que estou morto”? O derradeiro suspiro seria uma espécie de conforto derivado de frustrações e de uma personalidade abjeta e desprezível, embora ainda se observe algo de humano nos seus sentimentos, o que o incomoda nesta ambivalência entre o ser e o querer ser. Seria uma auto clemência para o que ele considerava uma inadequação, ou uma sociopatia que emergiu há poucos anos. Seria o final da sua fuga, não planejada, e que se fiou no limbo da paixão, entre os precipícios do desejo e o regozijo do ego. Uma empreitada derradeira para um beco sem saída.
A questão é quais sentimentos deveriam passar pela sua mente incorpórea? Pena, conforto, suscetibilidade, raiva, aquiescência, rancor, arrependimento, sofrimento, perda, graça, dádiva?
Is it possible that all divine and philosophical systems built in all human societies, almost without exception, that seeking to decipher the separation between mind and body; would not be the response to the dissatisfaction, resulting from annihilation? Although we are beings who have self-consciousness, that elaborate a building of life that must perpetuate itself for decades, is it terrible to think that everything will be in vain? So, ultimately, there will be only something in constant deterioration, something we do not recognize as ourselves. Just something! Whatever, the finding of death by a supposed self-awareness should not irritate it?
Instead, the character observes itself as a dead body, motionless in a prison of the Palmas city, lying in a filthy dirt Brazilian jail, surrounded by discolored catarrhs, almost immaculate from smells and grotesque noises that sound in that environment of latter-days, indifferent to life or death. How that limbo of existence, almost reluctant in jumping to a deep absence, should be thinking about itself? If this diving were a relief, should it only exclaim “I realize I’m dead”? The aftermost sigh would be a kind of cozy derived from frustrations and of an abject and unworthy personality, although it’s still possible to observe something as human in its feelings, what bothers it in this ambivalence between being and wanting to be. It would be a self-clemency to what he considered an inadequacy, or a sociopathic way, which emerged some years ago. It would be the final of his non planned runaway, that was hazarded on the limbos of the passion, between the precipices of desire and the overjoy of his ego. An ultimate endeavor to a dead end.
The question is what feelings should pass through his immaterial mind? Piety, comfort, susceptibility, anger, acquiescence, rancor, repentance, suffering, loss, grace, gift?