Por Credits: Pierre Holtz / UNICEF CAR / hdptcar.net at hdptcar [CC BY-SA 2.0 (http://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0)], undefined
Você quer dizer que sou um menino ou um soldado? Ou ambos? Se assim for, não tenho muito a dizer além de que não há nada mais perigoso do que um soldado-menino. A guerra não é uma brincadeira que pode ser levada com graça, como se estivesse numa roda de amigos e sugerisse: - vamos matar alguns bandidos? Tiros de fantasia que são disparados mais por aqueles hormônios que começam a ferver no sangue, do que por uma intenção malévola. Na realidade, se um tiro carregar uma vida para a morte, o arrependimento enterrará a consciência. O menino chafurdará toda a sua existência porvir na lama e no esgoto da compunção que cobrirá sua vida. Se sua mão tremulante tomar um rifle para que olhos ameninados vasculhem o que tombar, não será uma escolha digna de combate. Esta instância última de defesa ou ataque, campo de medidas extremas, desapego da vida, negação da humanidade, não combinam com o que aqueles poucos anos testemunharam. Mas há casos que crianças são vetustas nas desgraças. Quando o entorno respira e transpira violência e a infância é deformada pela crueldade. Nestes casos eu não seria um soldado-menino porque eu nunca teria sido um menino. Teria apenas vivido uma vida de velho, de vontade decrépita e sonhos que nunca nasceram.
Como? Menino-soldado? Nem pensar porque não é somente uma questão de ter insciência do que for feito, nem um desvio precoce de destino: é a própria antítese da infância. Rouba-se tudo: seu tempo, sua vida, seus familiares. Tudo que é estruturante, tudo que possibilitaria fornecer solidez aos seus sonhos. Entrega-lhe uma arma e uma crença, nada mais. Como tudo isto que vemos ao nosso redor, às vezes transvestido de ideologia, às vezes chama-se de fé, mas no fundo são conceitos manipulados por aqueles que se dizem sábios, que dizem guardar o repositório de conhecimentos difusos, cujas malhas de ligação de ideias são por vezes tão complexa que qualquer afirmação pode ulular delas. Qualquer mesmo! O que inclui aquelas de se criar inimigos (alguns dirão diabos, demônios, tinhosos, imperialismos e assim por diante), de se amplificar problemas, de turvar visões. O menino neste meio enxerga pelos olhos de outros porque nunca viu o que ele poderia ser.