Quando foste embora, deixaste tuas verdades no meu peito, e elas doíam latejantes numa realidade que não queria. Tuas palavras calavam as minhas. O meu “eu te amo” era tão solitário, mas era minha verdade e minha mentira. Podias me mentir também que eu acreditaria. Seus carinhos ásperos vasculhavam minha pele e pareciam não me tocar. Ouvia-te como sussurros e escolhia tuas melhores frases. Ignorava todo o mais. Odiava o vulto e amava o homem até que os dois se foram. Agora a poeira levantada pelos fatos turva o horizonte onde sonho. Talvez eu te veja como silhueta na lonjura do destino, ou talvez seja apenas uma sombra do homem que aqui estava. Queria apenas verter um amor, que supunha transbordar no meu coração, para te inundar com a esperança. Mas tu odiavas futuros. Não esperaria a maré para zarpar para um longe, qualquer um longe. Não consegues sofrer com as âncoras de passado, nem com mares revoltos. Apenas vai, vai e vai. Nada te prende, nem ao menos uma súplica sincera, mesmo que mentirosa. Tua voz ainda ecoa, como ditas por um fantasma que me rouba as alucinações.
Eu deveria estar só e cantar uma cantiga antiga e triste. Deveria remoer minhas frustrações silenciosamente e chorar minhas limitações. Consterna-me perceber que minha felicidade está na mentira de um mundo perfeito e que não sou feita para verdades.