Science Museum (London)
This indolent horror persists from dawn to the nightmarish storms. It preaches in my ears its melancholic litany with an atonal and dragged voice. The sound looks like grieve song; which impregnates my reason and indelibly pervades itself in the few yearnings that survived through the years. For more there are thoughts that try to abstract me; for more charms that parade through my iris, the continuous whining deafen the daily life and eclipse my horizon, if there is one. I well know that there is a day after the night that is approaching, but I also know that this day will not be different from what has passed. There is no difference between the weeks, the months and the years when there is no longer the chilling of hope. Life has ended on a precipice and the next step will not have the future.
It was not always like this. Before, the beauty was seen and felt by a young look that opposed the transgressions of civility that spread through the streets. Happiness was translated by dreams, and the city faded into nonexistent colors, robbed of the imagination of other moments captured by sensibility. The gray was painted with paintbrushes of trust in life. The colors of Van Gogh spellbind the instants and there was a woman. The same woman who had the soft traces of seduction, the glitter of passion in her look and the touch of silk in her hands. She was there with her dresses dancing with the breezes, with her perfume rivaling the flowers. She was beautiful and still is what I remember. Life was an endless road with her. With her I could lose the track for a moment, but the road was never far away. The designs of fertility were in everything: at work, in sex, in family, in friends, and in everything that was seen. Feeling was a consequence of experiencing and dreaming was synonymous of accomplishment. I needed to fly.
I do not understand the reasons for nonconformism of human being. Even when we are happy and healthy, we have the urge to venture into the unknown. Perhaps we are motivated by the fear of emptiness or, what is equivalent, by the dread of stagnation. Our inner self is noisy and has aversion to silence and, when the ideas are silenced, the desires are buried. Thus, we begin to walk through the life as puppets in the invisible hands of quotidian. Our spontaneity becomes a shadow in the penumbra and scarcely could be perceived that it exists. The streets stretch across the city and the gray come back to tint all the urban environment. The decadence of the town stampedes itself in the eyes, the foul odor takes away the supposed perfume and the garbage dumps in the bowels of the perception. Slowly the perishing is approaching until that old dream of flying comes.
And we flew into space without roads.
And I flew away from you.
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Este horror que se deixa indolente, persiste desde a aurora até a tormenta dos pesadelos. Prega nos meus ouvidos sua ladainha melancólica com uma voz atonal e arrastada. Parece a de carpideiras e se impregnam na minha razão e velam de forma indelével os poucos anseios que sobreviveram aos anos. Por mais que existam pensamentos que me tentam abstrair, por mais encantos que desfilam pela minha íris, os lamentos ensurdecem o cotidiano e eclipsam o meu horizonte, se é que há um. Eu bem sei que há um dia depois da noite que se aproxima, mas eu também sei que este dia não será diferente deste que passou. Não há diferenças entre as semanas, os meses e os anos quando não há mais o acalento da esperança. A vida terminou num precipício e o próximo passo não terá mais o futuro.
Nem sempre foi assim. Antes, a beleza era vista e sentida por um olhar jovem que se opunha as transgressões de civilidade que se espalham pelas ruas. A felicidade era traduzida pelos sonhos e a cidade se fantasiava em cores inexistentes, roubadas da imaginação de outros momentos capturados pela sensibilidade. Pintava-se o cinza com pincéis da confiança na vida. Cores de Van Gogh alucinavam os instantes e havia uma mulher. A mesma mulher que possuía os traços suaves da sedução, o brilho da paixão no olhar e o toque de seda em suas mãos. Ela estava lá com seus vestidos a dançar com as brisas, com seu perfume a rivalizar com as flores. Ela estava linda e ainda o é naquilo que me lembro. A vida era uma estrada infinda com ela. Com ela, eu poderia perder o rumo por alguns instantes, mas a estrada nunca ficava distante. Os desígnios da fertilidade estavam em tudo: no trabalho, no sexo, na família, nos amigos e em tudo que se via. Sentir era consequência do experimentar e sonhar era sinônimo de realizar. Eu precisava voar.
Eu não compreendo as razões do inconformismo do ser. Mesmo quando estamos felizes e saudáveis, temos o impulso de nos aventurarmos em direção ao desconhecido. Talvez sejamos motivados pelo medo do vazio ou, o que é equivalente, pelo temor da estagnação. Nosso íntimo é barulhento e tem aversão ao silêncio e, quando as ideias se calam, os desejos se enterram. Assim, começamos a passear na vida como fantoches nas mãos invisíveis do cotidiano. Nossa espontaneidade vira uma sombra na penumbra e mal se pode perceber que ela existe. As ruas se estendem pela cidade e o cinza volta a matizar todo o ambiente. A decadência da urbe se estampa nos olhos, o cheiro fétido arranca o perfume suposto e o lixo se avoluma nas entranhas da percepção. Lentamente o perecimento se aproxima até que vem aquela antigo sonho de voar.
E voamos para o espaço sem estradas.
E eu voei para longe de ti.