sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

O Querer

Mater Triumphalis - Annie Swynnerton - Musée d'Orsay

Quero voar pelas distâncias que não percorri. Soltar-me ao querer dos ventos, velejar pelos ares de forma intocável e intrépida. Serei alçado da prostração para percorrer a lonjura colocada no teu corpo, na tua pele suave e tépida, pela qual rocei meu desejo naqueles idos que simplesmente se foram sem nenhum aceno. Num dia estavas emoldurada na minha vida. Noutro deixaste só um pressentimento nos vestígios que persistiam no quarto: a roupa arrancada às pressas, um batom gasto, um falso brilhante que se depositou no tapete. Num dia estavas linda com aquela brisa a bailar seus longos e negros cabelos e esta é a imagem que persiste nos meus sonhos incertos de sonolência. Noutro dia estavas somente numa miragem que desenhava minha saudade pelos momentos de viver. Mas qualquer entrementes te busca e ignora a delusão. A tua realidade está impregnada em mim nas lembranças obstinadas, nas vozes que sempre ouço, no toque que sempre sinto e que ignora teu aparte.

Quero voar nos furacões que turbilhonaram as paixões insanas e eternas, recíprocas ou não. Quero redemoinhar em ti na ausência das horas, no tempo extirpado do cotidiano para um amor eternal, carnal e infernal. Toda a sabedoria é descrença diante de ti, todo conhecimento é inútil e todo querer é irrelevante ao te querer e ao te conhecer. Porque não há nada mais essencial do que o exercício de te amar, que te torna única, absoluta e linda.

Quero voar nas brisas que trazem a calmaria da tua presença e fazem tuas mechas dançarem com a graciosidade da tua silhueta. Sinto falta de me deitar meu rosto na tua pelve e absorver teu aroma. Teu corpo é um refúgio licencioso e cálido, que entorpece meus sentidos pelo desmerecimento de todo o mais. Tua voz consegue me embalar e quebrantar, além de afugentar o irrisório que insiste pelos caminhos da vida. Tua voz resgata-me do chão para as dimensões infindas dos céus, sem os limites da minha presunção e repletos de horizontes.

Quero asas para encontrar meu anjo diabólico que voou para o longínquo. Quero arrancar estas correntes que atracam meus desejos no pó do chão. Quero flutuar contigo para além da vida, para além da morte, na eternidade de nós dois.

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Teu Sorriso

Rosas e Anêmonas - Vincent Van Gogh (Museu D'Orsay - Paris)

Há o que paira na percepção como um quadro de Van Gogh. Desperta a sensibilidade com as pinceladas de emoção e rebuliça o íntimo com alusões não compreendidas da matéria arte. É claro que há uma significação dentro da alma e o desenho contorna sentimentos não tão precisos no tempo, nem tão claros o suficiente para se aquiescer. A tela é um espelho desfocado de um desejo incontinente preso no desconceito do cotidiano. Derrama umas poucas lágrimas sobre um rosto incrédulo dentro da insciência do querer e se vai; e sempre se esvai pelos afazeres insistentes e inevitáveis. Sinto-me incapaz de aludir o que me comove dentro da miríade de tons, do relevo quase imperceptível da tinta, como ondas e brumas num oceano misterioso e infinito. Apenas tenho aquela vazante que leva minha compreensão para a ignorância do amor, se é que se pode atribuir um corpo a ti, querida misteriosa que se perde na minha procura. Nos matizes, sou apenas uma sombra ou uma sobra encantoada na vereda que limita meus destinos. Eu não tenho as cores que me revelam; apenas um obscuro que se clareia quando minha retina passa pelas pinacotecas picotadas nos imensos dias que me testemunham.

Porém, há o que paira na emoção como um relâmpago ofuscante; e percorre a pele com a alucinação de toques ávidos. Inverte aquele ser sombrio dentro do avesso dos seus sentidos: torna-o melhor. Pincela de realidade o que apenas se deseja e atravessa com seus horizontes amplos as serras, florestas e quaisquer obstáculos que se avizinhem. Os passos caminham para uma imagem que lentamente se veste de um corpo nu; para uma frieza que vagarosamente é aquecida pelo abraço; para um quadro que te olha profundamente. Não há palavras ditas dentro dos sussurros porque a gramática está aquém do significado. E os relances dos olhares revelam em segundos, todas as páginas da vida e seus ditos inauditos. Talvez esquecidos dentro do conforto desta maturidade, ou talvez irreais pelos fatos costumeiros.  Teu sorriso vem, ora sem o quem numa imagem que me feitiça, ora com o quem na tez que me fascina. Sou então atraído para o abismo da paixão, mas no teu doce beijo alço voo para as amplidões da eternidade contida nos poucos, sempre poucos, momentos quando estou ao teu lado. Os pinceis nas tuas mãos impregnam de sentido as lágrimas derramadas pelo Van Gogh, e me completam ao trazer os sonhos para os meus dias. Teu sorriso vem para os meus olhos inundados pela compreensão da tua existência dentro da minha, depois de anos perpetuados na descrença de uma presença em que eu não precisasse profanar as ininterruptas frases de amor. Teu sorriso agora está em mim, em nós e em tudo o que admiro e guardo na minha lembrança.

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Velhice

François-Auguste Biard - Magdalenefjorden - Museu do Louvre

Dentro deste quarto, décadas se concentram em torno de uma alma serena. Decerto há um vasto passado que ora pesa sobre estes ombros arqueados pela fadiga dos tempos pregressos, ilustrados em imagens talvez mais ilusórias do que factuais, porém postadas como reais naquela lembrança anciã. Embora vilipendiado pelos anos, seu olhar desenha na parede, nua de quadros, as encenações de uma vida absolutamente comum e trivial, apenas vivida. Marejado de saudades, os olhos pairam no empastelamento dos matizes e se lembram dos personagens sem as cores intensas, porque agora refletem que não há mais vigor nos braços e nos desejos, apenas vestígios parcos que se estendem no tempo como um autorretrato em preto e branco de si, prostrado em paisagens incertas daquele sonho vago que não se realizou. Antes dos idos, ele estava na beira de uma caminhada para um destino que agora chegou encarcerado num quarto ausente de pessoas, num coração apagado de paixões e numa morte enterrada logo mais no futuro.  O que ele poderia dizer para si? A mudez escarnece sua insignificância, o gosto amargo das frases devoradas pela falta de paixão. Há um sorriso leve, quase incerto, que pouco adorna a sisudez da expressão. Há um sorriso vindo daquele querer que maltratou os momentos oportunos com o egoísmo. De nada vale esta parede e estas memórias labirintiformes que não encontraram a saída para a felicidade e agora agonizam um já é tarde. 

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Sonhos Ingênuos

Museu do Louvre

Já houve um tempo de sonhos ingênuos, que coloriram a graça da vida por anos. Quando se é jovem, tudo é infindo e crendeiro. Tudo se fia na espera de um súbito gracioso que deveria se alinhar no destino. Entretanto, a marcha de acontecimentos é lenta e os passos em círculos, que se caminha pelos anos, cavam nossas trincheiras. Decerto, alguém poderia enxergar meu coração muito além do vazio da minha personalidade. Um alguém também perdido pela insistência penserosa de dias mais amenos, onde se poderia encontrar um refúgio para a esperança... Escapou-me um riso ao perceber o verbo esperar na esperança. Deveria existir uma palavra como “atenuança”, para reforçar o sentido de que se quer apenas atenuar a desesperança, talvez com uma dose de verve engolfada com urgência e pressa em frente à beleza de uma emoção, quiçá única dentro de uma vida. O que se ocorre é a contínua perda de momentos, despejados como óbitos despercebidos em passados esquecíveis da contemplação. Quantas vezes apreciamos um pôr do sol? Em quantas vezes havia alguém ao lado, calado de palavras e loquaz de paixões? Quantas vezes conversamos com a alma de alguém? Quantas vezes demos um abraço num desconhecido motivado apenas por um dizer ou fazer? Se a conta ultrapassa dos dedos da tua mão, és uma pessoa afortunada e a sua vida pode ser resumida e ampliada pelos fervores. Talvez a tenha deixado como herança para uma humanidade diligente e rara, o que planta e replanta sonhos ingênuos, mas agora factíveis.

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

About Anchors and Wings - Sobre Âncoras e Asas

By Fluous - Own work, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=25192888

There must be a time, even if pressed by the circumstances of the duties, where we will coexist with our shadow. That dark node that covers and suppresses desires for the blindness of who we are and want. This time lurks and insinuates certain darkness inside the soul. Obviously the existence of blackness characterizes some of the partitions of our personality and can overwhelm the viewpoint of self-observation, if there is weakness in intuition about who we are within our midst. Gregarious beings can only be understood by convoy, but absolute freedom is out of the herd. However, while the corral has its disadvantages, it limits our psychic efforts and provides some existential comfort, even if filled with dark stains. Beyond the fences is the impassive desert bordered on the unknown, this insubstantial and supposed backwater that extends beyond sight. Of course there are people born to move forward, as there are those born to stop. Both have their virtues and their vices. Both live between the intrinsic dissatisfaction of life and the momentary satisfaction of vague achievements. What sets them apart are the will-driven steps: one walks in circles, another walks along the edge of the abyss. One sleeps and dreams, other dreams sleepless. One has anchor, another has wings.

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Deverá haver um tempo, mesmo que premido pelas circunstâncias dos afazeres, onde coexistiremos com a nossa sombra. Aquele nódulo escuro que cobre e suprime desejos pela cegueira de quem somos e queremos. Este tempo espreita e insinua certa escuridão da alma. Obviamente a existência do negrume caracteriza algumas das partições da nossa personalidade e pode avassalar a ótica da observação própria se houver fragilidade na intuição acerca de quem somos dentro do nosso meio. Seres gregários só se entendem em comboio, porém, a liberdade absoluta está fora do rebanho. Entretanto, ao mesmo tempo em que o alfeire tem suas desvantagens, delimita nossos esforços psíquicos e proporciona certo conforto existencial, mesmo que recheado pelas nódoas escuras. Além das cercas está o impassível deserto fronteiriço do desconhecido, este insubstancial e suposto remanso que se estende além da vista. É claro que há pessoas que nasceram para avançar, como há aquelas que nasceram para parar. Ambas possuem suas virtudes e seus vícios. Ambas vivem entre a insatisfação intrínseca da vida e a satisfação momentânea de conquistas vagas. O que as diferencia são os passos dirigidos pela vontade: uma anda em círculos, outra caminha pela borda do abismo. Uma dorme e sonha, outra sonha insone. Uma tem âncora, outra tem asas. 

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Contradictions - Contradições



My life is old and this isolates my heart on an island, wrecked by circumstances or by path choices. My body is already torn by time: a pile of debris that moves ever slower, shrouded in the tomb of its very existence. Drowning in the shallow waters of the ephemeral, I try to emerge from unfulfilled dreams; they just passed through my nights as if ignoring me by indifference. Like that woman who lay in my bed and gave what she could give of her body and soul. She stayed no longer than necessary and soon left, even when she was still in bed naked, without her clothes and time. Everything in me has ceased in being, even this breathless lyricism that consumes the lines without capturing the woman that gone, beyond the one that wants to be in the future. The paths are on the obliquity of wanting, obstructed by reason or stolen in the shadows of emotion. The fact is that the horizon still persists in front of the distance and the legs stagger: who approaching is the sunset. I can no longer eclipse my contradictions with the personality because contestation plagues me, strikes me with its sharp sword, erode me with its acid speech, and leaves me on the curb of any street that passes through me.

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Minha vida está velha e isto isola meu coração numa ilha, náufrago das circunstâncias ou das escolhas dos caminhos. Já tenho o corpo carcomido pelo tempo: um monte de escombros que se move cada vez mais lento, envolto pela tumba da sua própria existência. Afogado pelas águas rasas do efêmero, eu tento emergir dos sonhos que não foram realizados, apenas passaram pelas minhas noites como quem me ignora pela indiferença. Como aquela mulher que se deitou na minha cama e deu o que podia dar do seu corpo e da sua alma. Não ficou mais do que o necessário e não tardou em partir, mesmo que ainda ficasse na cama desnuda pelas roupas e pelo tempo. Tudo em mim deixou de ser, mesmo este lirismo ofegante que consome as linhas sem capturar aquela que se foi, além daquela que quer estar no porvir. Os caminhos estão no soslaio do querer, obstruídos pela razão ou furtados nas sombras da emoção. O fato é que o horizonte ainda persiste diante do longe e as pernas cambaleiam: quem se aproxima é o ocaso. Não posso mais eclipsar minhas contradições com a personalidade porque a contestação me assola, fere-me com sua espada aguda, corrói-me com seu discurso ácido e abandona-me no meio-fio de qualquer rua que passe por mim.

terça-feira, 4 de junho de 2019

Beauty - Beleza

Imagem gerada pelo GPT-4o

What is beauty? I could relate beauty with aesthetics, but I would be limited by the simple lack of contemplation. Beauty may be the infinite gaze that explores the immensity with the wings of the heart. It doesn't stick to ridicule, to the uncontested censorship and to the looking of others. It investigates and advances in a kind of liking deified by soul. Beauty is like crying tears that testified some deep admiration; it is to water the ungodly being with liberating weeping, as mourners in front of the evil that is gone. Beauty is dreaming of skies and navigating the clouds that take us to the bodies that harmonize us and complete us. It is having the dimensions of height and suppressing the distances that bring your hand to my face. Beauty is to love! Even in the face of a vast desert, it is to feel your mirage in me, forever and ever, in that eternity summed up in a kiss.

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O que é a beleza? Poderia relacionar o belo com a estética, mas eu estaria limitado pela simples falta da contemplação. Beleza talvez seja o olhar infinito, que explora as imensidões com as asas do coração. Não se atém aos ridículos, a inconteste censura e aos olhares de outrem. Investiga e avança numa espécie de querença deificada pela alma. Beleza é chorar uma lágrima que testemunha a profunda admiração; é regar o infecundo ser pelo pranto libertador, como carpideiras do mal que se foi. Beleza é sonhar com céus e navegar nas nuvens que nos leva para junto dos corpos que nos harmonizam, nos completam. É ter as dimensões da altura e suprimir as distâncias que trazem tua mão para o meu rosto. Beleza é amar! Mesmo diante de um vasto deserto, é sentir a tua miragem em mim, diante de todo o sempre, naquela eternidade resumida num beijo.

domingo, 2 de junho de 2019

Behind Footlights - Atrás da Ribalta

Imagem gerada pelo Midjourney


For a long time the isolation of a life has led me to consider myself moving within an unlimited stage, as the protagonist of a tedious plot that does not hold your attention. I see you beyond the dazzling spotlight to get out of this veil that blurs our fates and stumbles our steps toward the meeting. You are alone in listening a song that touches your soul and imposes a rhythmical cadence, unlike the sequence of fervors and dismays that erode our minds. We are alone in the songs that stop the time and repress our prostrations. When your face appeared in front of me, I sang an eternity and heard the accompaniment of angels on Chopin's piano. I touched with my eyes to you in the absolute absence of sounds and tones, but in the rhythm of wanting you. But you weren't onstage to set me free by trapping me in you and throwing away the keys of my heart.

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Por muito tempo o isolamento de uma vida levou-me a considerar que me movo dentro de um palco ilimitado, como um protagonista de um enredo tedioso que não prende a atenção de ti. Eu não te vejo além da ofuscante ribalta para sairmos deste véu que turva nossos destinos e tropeça nossos passos na direção do encontro. Estás sozinha ao ouvir uma canção que te toca a alma e impõe um ritmo cadenciado, diferente da sequência de arroubos e desânimos que corroem nossas mentes. Estamos sozinhos nas músicas que freiam o tempo e reprimem nossas prostrações. Quando o teu rosto surgiu na minha frente, eu cantei uma eternidade e ouvi o acompanhamento dos anjos no piano de Chopin. Eu tocava com os meus olhos para ti, na ausência absoluta de sons e tons no ritmo de querer-te. Mas não estavas no palco para me libertar ao me prender em ti e jogar fora as chaves do meu coração.

quinta-feira, 30 de maio de 2019

Ditty - Cantilena

Imagem gerada pelo GPT-4o


The night lies down and copulates with me, like a hallucination made more of shadows than of touches. Its black arms wrap around my body clogged with years, blind my vision and make odorless the memories of kisses. I no longer sleep and I suck like a vampire the hours that pass at dawn with the longing of your neck, that fragrance of expired perfume and sweat that awoke my soul. The darkness testifies to my indolence and my sudden movements that seek you in the deep silence of the abyss that separate me from you. There are years between our bodies, but there is also a figure that refuses to go  from this delirium that is your absence. She wants to steal your form, wear your lingerie, but you can not hug me. The love can hardly be heard in the deafness of my days. Your heat is slowly dissapate from me, to leave me this unbearable cold, this impenetrable murk and this unfinished dream.

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A noite se deita e copula comigo, como uma alucinação feita mais de sombras do que de toques. Seus braços negros envolvem o meu corpo entupido de anos, cegam minha visão e tornam inodoras as lembranças de beijos. Não mais durmo e vampirizo as horas que passam pela madrugada com a saudade da tua nuca, daquela fragrância de perfume vencido e suor que acordava minha alma. As trevas testemunham minha indolência, meus movimentos bruscos que te procuram no profundo silêncio dos abismos que me separam de ti. Há anos entre nossos corpos, mas há um vulto que se recusa a partir deste delírio que é tua ausência. Ela quer roubar a tua forma, vestir tua lingerie, mas não pode me abraçar. A cantilena de amor mal pode ser ouvida na surdez dos meus dias. Teu calor se esvai lentamente de mim, para deixar-me este frio insuportável, este breu impenetrável e este sonho inacabado.

terça-feira, 28 de maio de 2019

Traces of Soul - Vestígios de Alma

Imagem gerada pelo Midjourney


The vestiges of my soul should not be gathered by a sensitivity, still when distracted from intentions. They are pieces that should reassemble the dreams that a young man has been hallucinating for decades, that only scribbled facts and suggestions on destiny in the past. They create nothing but chance to find you, that they have not found yet. You, woman barefoot and almost naked, dance in my delirium of living. You does not allow me a touch, within your improbable existence and in your fragile body, made of lights and shadows in the paintbrush of my mind and of my desire. I follow you as a pilgrim around the divinity that is admitted to me, in this procession that we call time. I want you as a beggar of love, as a pariah of the passions, as a simple and ordinary man. I do not want his leftovers because I'm athirst for the whole, even in this body abandoned by youth and left by emotion.

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Os vestígios da minha alma não devem ser recolhidos por uma sensibilidade, ainda que distraída das intenções. São peças que deveriam remontar os sonhos que um jovem alucinou há décadas, porém apenas rabiscam fatos e sugestões no destino pelo passado. Nada criam a não ser o acaso de te encontrar que, porventura, não te achou. Você, mulher descalça e quase desnuda, dança no meu delírio de viver. Não me permite um toque, dentro da sua existência improvável e do teu corpo frágil, feito de luzes e sombras no pincel da minha mente e do meu desejo. Eu a sigo como um peregrino em torno da divindade que se admite, nessa procissão que chamam de tempo. Eu a quero como um mendigo de amor, como um pária das paixões, como um homem simples e comum. Eu não quero suas sobras porque sou sedento do todo, mesmo neste corpo abandonado pela juventude e largado pela emoção.

São Jorge - Saint George

  Imagem gerada pelo Midjourney São Jorge! Mostraste a coragem misericordiosa que me livrou do dragão que sempre carreguei em meu coração. I...